SUPCD 2023
Pai PCD fala sobre acessibilidade em aula de Arquitetura na Ulbra Torres
Celso Fernandes Ramos transmitiu conhecimento na turma do filho
A convite do filho Celso Borges Ramos, acadêmico de Arquitetura e Urbanismo da Ulbra Torres, e da professora da disciplina de Segurança do Trabalho, Acessibilidade e Ambiente, Graziella Radavelli, o massoterapeuta PCD Celso Fernandes Ramos falou ontem à noite em sala de aula sobre acessibilidade em prédios públicos e adaptação ao mundo cego de quem perde a visão. O encontro fez parte da Semana Ulbra da Pessoa com Deficiência, que vai até esta sexta-feira (25/8) em todas as unidades da Ulbra.
"Foi um espaço muito legal, e não é a primeira vez que vou na Ulbra falar sobre o assunto. Dessa vez foi mais focado para o pessoal da Arquitetura, para projetos de acessibilidade nas obras", destacou Celso pai, 63 anos.
Na plateia, Celso filho era só orgulho ao acompanhar o pai transmitindo conhecimento para seus colegas, futuros arquitetos e urbanistas que terão a oportunidade de transformar as cidades mais acessíveis para pessoas com deficiência.
"Foi muito interessante a participação dele em sala de aula. O meu pai é um exemplo pra mim, é um cara que perdeu a visão depois dos 50 anos, se reinventou e continuou buscando algo novo. Ele buscou um aprendizado diferente, coisas que antes ele não se interessava. Ficou muito feliz pelo convite porque é importante passar a informação sobre essas dificuldades, e nada melhor do que a fala de alguém que necessita dessa acessibilidade", contou o filho e aluno da Ulbra.
Essa troca de experiência abriu os olhos daqueles que serão os responsáveis por projetar no futuro construções que necessitam ser adaptadas, como por exemplo, colocação de piso tátil e corrimão com abertura para pegada.
"Para os futuros profissionais de Arquitetura, foi fundamental tomar conhecimento sobre os desafios enfrentados pelos deficientes visuais em vivenciar os espaços públicos. O compartilhamento das experiências trazidas pelo sr. Celso Fernandes contribuiu para sensibilizar os alunos sobre a importância do papel do arquiteto no desenho de equipamentos ambientais e cidades mais acessíveis", explicou a professora Graziella Radavelli.
Bom humor em sala de aula
Celso Fernandes também deu um show de bom humor durante o encontro com os alunos. Contou algumas histórias engraçadas de sua vivência em andanças pelas ruas e locais públicos.
"Já entrei em diversos orelhões, que hoje nem existem mais. Uma vez estava eu e um amigo andando em Porto Alegre e quando vi entrei e bati a cabeça no orelhão. Daí o meu amigo disse: "não viu o orelhão?". Respondi: Vi, vim telefonar", contou, às gargalhadas.
"Tem pessoa que vê a gente na rua e se oferece para ajudar a atravessar ou subir no meio fio. Isso é bom, mas alguns falam muito alto, quase gritando. Sou cego, mas não sou surdo", disse, provocando risos dos alunos.
Elogios e Críticas
Mas também há histórias que mostram o descaso de instituições ou do poder público com as pessoas com deficiência ou com algum grupo delas.
"Uma vez entrei num Banco em Capão da Canoa, segui o piso tátil e bati em móveis. Instalaram piso tátil, como a Lei obriga, mas alguém inventou de trocar os móveis de lugar. O que adianta se não trocaram de lugar o piso?", contestou Celso Fernandes.
Em seu poder de fala, fez elogios e críticas aos gestores públicos.
"Osório é a cidade do Litoral Norte mais preparada para o deficiente visual. As outras estão muito atrás. Há cidades que fazem acessibilidade para alguns e se esquecem dos outros. É normal locais preparados para os cadeirantes, mas daí retiram meio fio, retiram tudo e deixam o deficiente visual sem um norte. A nossa bengala identifica o meio fio e a partir dele a gente tem a noção de onde está, é como se fosse um alinhamento. Se tirar, nos tira o alinhamento", disse, mostrando conhecimento de causa em sua vivência de cerca de 10 anos de cegueira.
A Ulbra defende essa causa. Semana Ulbra da Pessoa com Deficiência: rompendo barreiras, garantindo acessibilidade e inclusão.
Ouça a matéria em áudio: Pai PCD fala sobre acessibilidade em aula de Arquitetura na Ulbra Torres
Adão Paz Junior
Jornalista -- MTb. 13.667
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