Celebração!
"A educação liberta", diz reitor da Ulbra
Marcos Fernando Ziemer faz uma reflexão no Dia da Educação
O Dia da Educação, celebrado em 28 de abril, foi instituído para incentivar e conscientizar a população sobre o papel do conhecimento na transformação do indivíduo e da sociedade. Dedicada há 45 anos ao ofício de educar, a Ulbra iniciou neste ano um processo de reestruturação pedagógica, transformação que tornará a dinâmica de ensino/aprendizagem mais interativa e alinhada com o mundo moderno. Para refletir sobre a data e detalhar como, na prática, a mudança na forma de construir o conhecimento impactará positivamente na formação dos acadêmicos, o reitor da Ulbra, Marcos Fernando Ziemer, concedeu uma entrevista exclusiva para o site da Universidade. Confira!
Ulbra - Qual o papel da educação na formação do indivíduo?
Marcos Fernando Ziemer - Existem estudos, ao longo da história da humanidade, que demonstram que a educação faz toda diferença, tanto no âmbito individual quanto em uma sociedade. As pessoas se transformam a partir da aprendizagem que elas começam a construir. Isso é notório. Infelizmente, as diferenças sociais que temos no mundo inteiro passam por este aspecto. Aquela sociedade que colocou a educação em um pedestal e a está tratando bem tem um desenvolvimento. E nas que ficam fora deste processo, há um outro tipo de desenvolvimento, inclusive social e econômico. No Brasil, existem dados estatísticos recentes que mostram o quanto o conhecimento incorpora, até financeiramente, na vida de um aluno que vai para o mercado de trabalho com um diploma de ensino superior. A educação é o centro porque o acesso à aprendizagem muda completamente a vida da pessoa. O lema da Ulbra, 'A verdade vos Libertará', embora seja um texto bíblico e sua interpretação teológica, podemos aplicar como sendo a aprendizagem, olhando pedagogicamente a questão, a educação liberta. Primeiro porque a pessoa começa a ter outra visão do mundo, passa a ter um poder argumentativo e reflexivo muito diferente daquela pessoa que não teve acesso à escola, à universidade ou ao conhecimento.
Ulbra - O que o ambiente acadêmico proporciona nesse processo de construção do conhecimento?
Ziemer - Nós temos no Brasil, e no mundo inteiro, estruturado esse padrão formal de escolaridade, em que o aluno tem fases. A educação básica é a fase onde a criança transita na escola com um professor que está com ele todos os dias. Depois, passa para uma segunda etapa, onde o adolescente têm diversos professores no ensino médio, já com uma outra lógica de aprendizagem, e passa a ter um pouco mais de autonomia. E, quando o jovem chega à vida acadêmica, é um outro momento importante, porque ele passa a ter contato com um ambiente de muitas oportunidades. Eu sempre digo isso para os calouros, que eles aproveitem tudo que a universidade proporciona. Não só na sala de aula, que é apenas um dos pilares da aprendizagem. A universidade é um ambiente vasto, seja de palestras, de eventos, de cursos de extensão, projetos comunitários, de relacionamento com empresas e com outras instituições de ensino do mundo inteiro. As dificuldades, os desafios que muitas vezes são amargos, também acontecem durante a vida acadêmica, mas isso não pode ser olhado do ponto de vista negativo, pelo contrário, são os desafios que fazem o acadêmico crescer. E aquele estudante que consegue enfrentar, superar e que não toma a decisão mais fácil: eu vou desistir, já vai construindo, tanto sua questão pessoal de valores e princípios, quanto a questão profissional, que é o objetivo dele ao fazer um curso superior e se colocar bem no mercado de trabalho.
Ulbra - A forma de absorver o conhecimento hoje é diferente, em função de todas as mudanças tecnológicas pelas quais o mundo passa. A reestruturação pedagógica lançada pela Universidade surge para estar alinhada com este mundo atual?
Ziemer - Sem dúvida. Nós tomamos essa decisão em 2015, quando começamos um processo de reflexão. Começamos a olhar para o nosso modelo de aprendizagem e pedagógico e a partir daí iniciamos uma discussão interna que envolveu, inicialmente, os coordenadores de cursos. Foi um processo amplamente discutido com todo o universo acadêmico que resultou nessa nova missão da Universidade, que é ser uma comunidade de aprendizagem eficaz e inovadora. A missão já diz o desafio que nós temos, que é justamente olhar para esse novo momento que a humanidade vive, no sentido do acesso à informação, ao conhecimento, e principalmente o modelo de construir essa aprendizagem. Hoje nós percebemos nitidamente que a geração que está chegando na universidade com esse aparato todo de tecnologia, essa facilidade do compartilhamento, da interação, tem uma forma diferente de aprender. Ele pode chegar muito melhor preparado do que o próprio professor em sala de aula e isso muda completamente o conceito de sala de aula. Nós não estamos dizendo com isso que o que foi posto até agora não é bom, mas nós precisamos avançar. O que temos hoje, o que construímos até hoje, é bom, tanto é que a qualidade de ensino da Ulbra está atestada pelo próprio Ministério da Educação quando nos avalia. Qualidade pedagógica nós temos, mas nós precisamos entender que estamos em um novo momento e precisamos inovar. Com a nova proposta, o modelo tradicional de sala se aula vai continuar existindo, existem momentos em que é necessário ter o professor expondo o conteúdo para os alunos, mas não pode ser só isso. Nós não podemos restringir a aprendizagem a quatro paredes da sala da aula. A aprendizagem hoje pode se dar sentado no trem, em um restaurante, na academia, em uma viagem, ela não tem mais paredes. E como universidade vamos trazer esse novo conceito para dentro do projeto pedagógico, das metodologias dos cursos, das estratégias de aprendizagem que os cursos vão utilizar.
Ulbra - E como, na prática, essa mudança é possível?
Ziemer - Por exemplo, os aparelhos de smartphone fazem parte da vida das pessoas. Tem coisas que essa geração que está aí não conheceu de outra forma a não ser pelo meio digital. Se a universidade continua com o seu modelo de quatro paredes, onde a aprendizagem só acontece ali, quando esse aluno chegar em sala de aula o professor vai dizer: guarda o celular. Mas hoje ele está integrado à vida da pessoa. A tecnologia não é o fim, é o meio que nos auxilia. A inovação na educação não é só a tecnologia, ela é um meio que nos ajuda, mas não está definida em si. Não é porque agora tem internet ou smartphone que vamos inovar a educação. Isso contribui para que o modelo de aprendizagem seja construído de forma diferente. A grande diferença é que nesse modelo de aprendizagem o aluno passa a ser o protagonista dessa aprendizagem. Passamos de um modelo em que o foco era o conteúdo para um modelo que o aluno é o protagonista. A sala de aula se transforma muito mais num momento de reflexão, debate, argumentação em cima do objeto de aprendizagem. Se o aluno vem para a aula já tendo acesso ao conteúdo previamente, a sala passa a ser um fórum de discussão sobre o conteúdo. O estudante passa a ter uma autogestão do seu conhecimento. Cada vez mais os currículos vão estar direcionados para que o aluno consiga construir sua trilha de aprendizagem, onde se dedique a uma área que mais lhe agrada, já que não é possível ele sair do curso especialista em todas as áreas.
Ulbra - E como esse modelo se reflete na carreira depois que esse profissional estiver formado?
Ziemer - A maior crítica que as universidades recebem do mercado de trabalho é que os formados não estão alinhados com o que o mercado almeja. Como faço para mudar isso? A universidade tem que se abrir, em um modelo de aprendizagem eficaz e inovador ela prevê isso, que o curso se relacione e se abra com o mercado, que o aluno trabalhe primeiro a realidade, por isso estamos mudando também o famoso tripé da Universidade, que é ensino, pesquisa e extensão. Nós estamos fazendo o contrário, chamando de extensão, pesquisa e ensino. Uma outra lógica. Penso que vamos avançar muito, o aluno vai sair com uma formação muito mais próxima da realidade no momento em que eu trago o que se vivencia no mercado para dentro da sua formação acadêmica. Nossos alunos, na sua maioria, são estudantes trabalhadores, que já estão colocados no mercado de trabalho, eles já chegam com uma prática. Essa riqueza da experiência do aluno tem que ser discutida na sala de aula, na biblioteca, no cafezinho, onde a aprendizagem acontecer. Estamos passando agora por um processo de qualificação e capacitação dos nossos professores para que eles possam ir absorvendo essa nova dinâmica. E estamos recebendo uma resposta positiva com os cursos das áreas que já estão inseridas na reestruturação. Semana passada fizemos uma primeira reunião de feedback desse semestre, e obtivemos relatos de resultados muito interessantes. É um desafio? É! Mas acho que será um desafio com muita naturalidade. Se a Universidade se fechar e não tiver um modelo que condiz com a vida do aluno lá fora, que tipo de formação nós vamos continuar ofertando? Fico feliz que a comunidade acadêmica tenha aceitado. Que lá em 2022 possamos olhar para trás e dizer que conseguimos atingir a missão proposta.
Marla Cardoso *
Jornalista Mtb 13.219
* Colaborou: Karoline Milbradt
Estagiária de Jornalismo da Ulbra Canoas
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