Engenharia de Minas
Minas: da pasta de dentes ao smartphone
Para mais informações, consulte a coordenação no número 3219-8052
A mineração está envolvida na maior parte das atividades que fazemos durante o dia, sem que sequer a percebamos. E esta é, inclusive, umas das razões pelas quais pouco se sabe sobre a Engenharia de Minas. O que faz este tipo de engenheiro, como trabalham em parceria com outras profissões, sua responsabilidade na preservação do meio ambiente e os tipos de pesquisa relacionadas à área, é o que conversamos com o Erwin Tochtrop, professor e coordenador de Engenharia de Minas no Centro Universitário Luterano de Palmas - Ceulp/Ulbra.
Ceulp/Ulbra: O que é o curso e o faz o profissional Engenharia de Minas?
Erwin: Essa pergunta é muito importante, porque o curso de Engenharia de Minas não é tão conhecido como as demais áreas da Engenharia. Todo mundo quando se fala no engenheiro civil, eletricista, químico, automaticamente já dirige esse enfoque para a atividade que o engenheiro vai desenvolver. Enquanto o engenheiro de minas, tem até uma brincadeira: "mas é só de Minas, não pode ser do resto do Brasil?", porque ainda se confunde qual a sua função.
Este engenheiro é responsável por todo o processo de extração mineral, então há uma série de atividades que só o engenheiro de minas faz, que vai desde a parte de prospecção juntamente com o geólogo, até a entrega de um produto final no beneficiamento, passando pelas áreas de desenvolvimento, lavra e tratamento do minério.Então tudo isso são atividades pertinentes ao engenheiro de minas e como eu falei, não é muitas vezes conhecida, porque a mineração não é algo que está todos os dias nos grandes centros. A gente tem um impacto quando infelizmente a mineração tem um fato negativo, como aconteceu recentemente em Brumadinho. Mas nós esquecemos que todas as nossas necessidades diárias passam pela mineração. Desde quando nós acordamos com a pasta de dente, até quando nós vamos dar a última olhada no nosso smartphone antes de deitar. Tudo tem mineração associado, em cada elemento, do flúor da pasta, proveniente da fluorita, um mineral que se torna explotável em determinada concentração, até o touch screen com vários elementos terras raras, para poder ter a sensibilidade do toque e transformá-lo na abertura de um aplicativo. Tudo isso tem mineração e a gente esquece, por trás de tudo isso tem um engenheiro de minas responsável.
Ceulp/Ulbra: O que o Curso de Engenharia de Minas do Ceulp/Ulbra tem de diferente?
Erwin: O primeiro diferencial do nosso curso é que ele é único em todo o Tocantins. Essa característica de nós termos um curso na região, podendo ser um centro de irradiação de conhecimento para todo o interior do Norte do país, é muito importante. Só existem três cursos de Minas hoje na região Norte e os dois outros são no Pará, então nós termos um curso de Engenharia de Minas, associado com o potencial mineral para o qual o estado ainda está adormecido, nos leva a sermos diferentes. E eu diria não só diferentes, únicos.
O outro diferencial é que o curso está voltado para a formação de pessoal que realmente trabalhem na mineração. Muitas vezes a gente tem esse questionamento de que alguns cursos ficam muito voltados para a parte acadêmica, mas o nosso é extremamente prático. Ele quer levar o aluno desde o início para dentro do laboratório, para desenvolver processos, rotas de beneficiamento, alternativas de mineração e tudo isso está ligado ao nosso diferencial.
Ceulp/Ulbra: O que pode ser destacado sobre a infraestrutura do curso e seus laboratórios?
Erwin: Hoje os nossos laboratórios contam com todas as áreas de atuação do engenheiro de minas. Na parte inicial que diz respeito ao conhecimento dos minerais, nós temos um laboratório de Geologia com todos os equipamentos necessários; na parte de desenvolvimento mineiro, temos softwares especializados que fazem esses projetos; nós temos ainda sistemas para extração de testemunho, para medir deformidades e a resistência dessas rochas, que vão ser muito importantes para o desenvolvimento mineral, para se fazer os planos de fogo; nós temos o laboratório de tratamento de minérios que conta, desde a parte de moagem, britagem, classificação, peneiramento e os diversos métodos de concentração. Então nós temos aqui dentro do Ceulp/Ulbra o universo completo da mineração.
Ceulp/Ulbra: Para quem está pensando em ingressar no curso, o que ele requer do estudante?
Erwin: Eu diria: o que o mercado de trabalho requer do nosso profissional e o que ele como estudante tem condições de realizar aqui no Ceulp/Ulbra? Antes de mais nada o engenheiro de minas é um profissional extremamente requisitado, o processo que ele tem pela frente é extremamente complexo, então é sempre importante saber trabalhar em equipe. E esse trabalho coletivo se desenvolve desde a entrada no primeiro semestre do curso, ou seja, o aluno é levado sempre a trabalhar em grupos multidisciplinares, porque ele tem de saber se expressar com o profissional que ele vai encontrar lá na mineração, que vai estar responsável pela perfuração, detonação, pelo carregamento, tratamento... Tudo isso ele vai se acostumando dentro do nosso curso.
Ceulp/Ulbra: O curso tem algum projeto que atenda à comunidade?
Erwin: Sim, hoje, ligados à extensão nós fazemos a prestação de serviços voltada principalmente para o pequeno minerador. Nós sabemos que as grandes empresas têm suas próprias áreas de P&D, pesquisa e desenvolvimento. O pequeno minerador não tem condições de manter essa estrutura, então os nossos laboratórios estão disponíveis e a gente tem bastante demanda de pessoas que muitas vezes chegam aqui com uma amostra que coletaram no campo e querem saber o que é. Empresas pequenas que querem saber como foi o resultado do beneficiamento deles e não têm condições de nem mesmo ter equipamentos de peneiramento. Então esse tipo de trabalho é realizado aqui dentro. Além disso também disponibilizamos para cooperativas e pessoas que trabalham com garimpo, todo o conhecimento técnico e o acervo que nós desenvolvemos ao longo desses anos.
Ceulp/Ulbra: Qual a relação do geólogo com o engenheiro de minas no trabalho de mineração?
Erwin: O geólogo assim como engenheiro de minas, tem uma regulamentação através do sistema CONFEA-CREA. A questão é que no trabalho, por ser multidisciplinar e ter muito trabalho de equipe, apesar de cada um ter suas atribuições específicas, um complementa a atividade do outro. Assim como outras áreas também estão envolvidas, como por exemplo: a gente precisa levar todo o sistema de eletricidade para uma mina, tanto para a parte de tratamento de minérios, quanto da lavra, se for subterrânea então, tem uma série de outras atividades, nós temos a manutenção de equipamento que quem faz é o engenheiro mecânico, coisas que sozinho o engenheiro de minas não faz. Então todas essas atividades são complementares e se associam dentro desse universo capitaneado pelo engenheiro de minas.
Ceulp/Ulbra: Como é o mercado de trabalho para o engenheiro de minas?
Erwin: Fiz um estudo recentemente, que foi apresentado num evento em Recife no final do mês de maio, em que eu analiso qual a perspectiva para o engenheiro de minas até daqui trinta anos, ou seja, até quase metade do século XXI. E o que a gente nota é que a tendência é de falta de profissionais no Brasil e que, além disso, o nosso profissional, associando o conhecimento de uma língua estrangeira é alguém extremamente requisitado fora do país. Eu digo que em termos de mão de obra nós temos duas grandes vertentes de exportação: uma é o jogador de futebol e a outra é o engenheiro de minas. Hoje, com o domínio da língua inglesa, o engenheiro de minas tem possibilidade de atuar em qualquer parte do mundo. Então eu não restringiria nem ao Brasil, quanto mais ao Norte, que é uma região ainda extremamente necessitada de profissionais. Por que? Porque a gente sabe que tem muitas atividades de mineração que não estão regularizadas, que tem uma perda enorme, que tem um impacto ambiental muito grande e tudo isso com a presença de um engenheiro de minas, nós conseguimos reduzir. Por isso ele é um profissional que apesar de no momento de crise ter uma demanda mais baixa, ainda assim, encontra ótimas oportunidades, que eu não vejo em nenhuma outra área de engenharia no país.
Ceulp/Ulbra: Qual é o trabalho do engenheiro de minas, em se tratando dos impactos ambientais da mineração?
Erwin: Sempre se associa mineração com destruição do meio ambiente. Então quando a gente vê um acidente ou uma tragédia como foi em Brumadinho, nós tendemos a associar: mineração é nociva porque ela estraga o meio ambiente. Porém nós esquecemos que a nossa vida depende da mineração em todos os sentidos. Tirando os produtos de origem animal e vegetal, o resto todo, provém da mineração. Até mesmo para se desenvolver uma boa atividade agropecuária, nós precisamos do fertilizante e ele vem do calcário, do fosfato, do potássio e dos demais microelementos. Então nós precisamos dessa cadeia cada vez mais associada a uma atividade de sustentabilidade. Os antigos processos como foram feitos ao longo dos últimos séculos, não só no Brasil, mas no mundo, não tinha nenhum cuidado com a preservação ambiental. Hoje, todos esses projetos de mineração tem que ter um licenciamento, buscar a sustentabilidade e prever um uso futuro daquela água. Não é simplesmente fazer uma mineração e deixar um rastro de destruição. Nós ainda sofremos impactos hoje com projetos que foram desenvolvidos na metade do século passado, que deixaram essas barragens do jeito como estão. Muitas vezes na ganância de se produzir mais, se descuidou não só de aspectos legais, mas técnicos e o que a gente está vendo agora, são situações de acidentes em áreas urbanas, acarretando verdadeiras tragédias, principalmente do ponto de vista das vidas, mas também dos impactos ambientais que eles causam. Então isso é uma mudança de paradigma para a mineração e o curso do Ceulp/Ulbra hoje tem essa vertente: nós buscamos sempre esse conceito de sustentabilidade, associada à preservação ambiental, com justiça social para as pessoas envolvidas. Para que a mineração traga ganhos não só para um determinado grupo, mas que esse ganho possa se estender para toda a sociedade envolvida, tanto nos arredores, quanto mais distantes da mineração.
Ceulp/Ulbra: O que vocês têm de relatos de egressos que se formaram e atuam na área?
Erwin: Nós temos hoje, vários ex-alunos trabalhando em diversos locais, inclusive fora do país. E muitas vezes esses testemunhos são não necessariamente dos egressos, mas principalmente de pessoas que trabalham com eles, que demonstram a satisfação de ter um profissional com o nível de formação que o Ceulp proporciona. Isso, é claro depende muito da pessoa, não é simplesmente o curso que forma, mas é uma associação do profissional que veio aqui buscar sua qualificação, com a formação que ele recebeu. E a soma desses dois fatores tem nos dado testemunhos bastante positivos, que nos mostram que o caminho é esse: uma formação sólida, consciente, voltada para a produção, meio ambiente, sustentabilidade social e a satisfação profissional.
Ceulp/Ulbra: Quais são os campos de trabalho mais recorrentes de quem se forma em Engenharia de Minas?
Erwin: Há uma área bastante forte, que é a regulamentação dos processos de mineração, então o engenheiro pode trabalhar como consultor nesta área. Nós também temos vários profissionais trabalhando na lavra e beneficiamento que são as duas principais vertentes da mineração. Então eu diria que daquilo que ele aprende em cada uma das áreas, ele pode aproveitar tudo na sua vida profissional. Ele é alguém que hoje pode estar trabalhando no desenvolvimento da mina, amanhã ele pode estar na lavra, num outro momento pode estar no beneficiamento. E isso tudo permite a esse profissional o deslocamento entre as diversas áreas da mineração.
Ceulp/Ulbra: Quais são os principais projetos de pesquisa desenvolvidos hoje no curso?
Erwin: Nós temos diversos projetos de pesquisa conjuntos, por exemplo, nós temos uma parceria entre o nosso curso e o departamento de Engenharia de Minas, da faculdade de Engenharia na Universidade do Porto. Junto a esse departamento, lá existe uma empresa que desenvolve inovação para a área do desmonte, o desenvolvimento de softwares inteligentes e ferramentas que permitam avaliar a qualidade desse desmonte de rocha... Então hoje há uma pesquisa nessa área, realizada pelo pessoal dessa empresa parceira, com os nossos alunos trabalhando aqui. Nós temos a área de beneficiamento de minérios que tem diversas propostas de projetos, se desenvolvendo com instituições fora e dentro do país, com as empresas mineradoras. Inclusive recentemente nós tivemos um artigo publicado numa revista, juntando a área de tratamento, com a parte de aproveitamento de resíduos sólidos industriais, numa revista de qualificação A1, dentro da área de Engenharia II da Capes. Então tudo isso mostra o potencial que nós temos, além disso, nós já tivemos capítulos de livros publicados e sempre há esse envolvimento na área de pesquisa, principalmente tornando a pesquisa um produto no final.
Ceulp/Ulbra: Algo que deseja acrescentar?
Erwin: O que eu gostaria de enfatizar é que o nosso curso está aberto para as pessoas interessadas, podendo, se quiserem, vir aqui e assistir aula, observar o funcionamento do laboratório, se envolver com uma atividade vinculada ao curso, até mesmo antes de o estudante decidir qual a profissão que ele vai seguir. Tudo isso para conhecer a vastidão que é o curso de Engenharia de Minas.
Erwin Francisco Tochtrop Junior é formado em Engenharia de Minas há 32 anos, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (URRGS), mestrado em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais pela mesma universidade e pós doutor pela Universitaet Stuttgart, na Alemanha. O professor está vinculado à Ulbra há vinte e dois anos e há cinco, atua como docente e coordenador do curso de Engenharia de Minas no Ceulp/Ulbra.
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