os Guarani e Kaiowá
Jorge Eremites de Oliveira
Holocausto é o termo empregado para a perseguição e o extermínio de milhões de judeus na primeira metade do século XX, sobretudo na Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Mas ainda hoje em dia, muitas pessoas mundo afora nutrem preconceito contra os judeus, inclusive sob a acusação de que teriam assassinado Jesus. No Brasil existe até o verbo "judiar", usado no sentido de maltratar, palavra que lembra os maus tratos sofridos pelos judeus ao longo de sua história. No entanto, paradoxalmente, há décadas o governo de Israel dispensa uma política de tratamento desumano contra os palestinos, com apoio dos Estados Unidos e outros países aliados, o que é de se lamentar profundamente. Mas também é verdade que muitos judeus se opõem a este tipo de atitude do Estado Israelense e buscam alternativas de paz no Oriente Médio.
Mas por mais absurdo que possa parecer, no Brasil há quem avalie - não sem dados para isso - que em Mato Grosso do Sul está em franco andamento uma política genocida de promover uma espécie holocausto contra os Guarani e Kaiowá, muitos dos quais vivem em reservas indígenas superlotadas que lembram campos de concentração. Nesses espaços a dignidade da pessoa humana é desrespeitada de várias formas. Há, ainda, comunidades estabelecidas em acampamentos às margens de rodovias em condições igualmente indignas, muitas vezes sem acesso à água potável, alimentação decente, educação formal e saúde de qualidade. Ali muitas delas esperam por decisões do Estado Brasileiro sobre áreas de reivindicam como terras tradicionalmente ocupadas por comunidades indígenas. Somam-se a isso os muitos assassinatos de lideranças indígenas, registrados ano após ano.
Há também setores da mídia regional que insistem na construção de imagens distorcidas sobre os povos indígenas no estado, como se eles fossem bárbaros, selvagens, bestiais e decadentes. Mas há também jornalistas que trabalham em sentido inverso, embora nem sempre com o devido espaço nos meios de comunicação. Muitos parlamentares, governantes, ruralistas e outros tantos também fazem coro na construção dessas imagens distorcidas. Não por menos algumas pessoas têm se referido a episódios de violência armada contra os indígenas como "agrobanditismo", termo que tem não sido usado como clichê para rotular todos os produtores rurais no estado, mas empregado para se referir à situação de violência armada contra os indígenas que aqui vivem.
De todo modo, acredito que temos muito a refletir sobre o assunto e, para tanto, é salutar que isso ocorra sem sectarismo de qualquer parte. Neste sentido, é urgente que o governo federal inclua a regularização das terras indígenas no Brasil como prioridade nas ações do Estado. Enquanto isso perdurar, a imagem de Mato Grosso do Sul e do país segue maculada por episódios marcados pelo assassinato de lideranças indígenas, suicídios de jovens, crianças desnutridas etc. Até quando vamos assistir a tudo isso e nada vamos fazer para mudar o quadro? E qualquer proposta séria a ser discutida deve ser feita no sentido de equacionar problemas sem desrespeitar ainda mais o direito daqueles que aqui já estavam antes de nós. Não estou a convocar pessoas a saírem às ruas de forma desorganizada ou a montarem caravanas para salvar os índios. Isso porque não se pode pensar que os indígenas sejam meros agentes passivos da história, muito pelo contrário. Chamo a atenção, isto sim, para uma profunda reflexão sobre o exercício responsável da cidadania e para uma mudança de atitude em relação a tudo isso que temos assistido. Ser menos intolerante e preconceituoso, pensando que tudo sabe e conhece sobre o assunto, já seria um bom começo.
Neste sentido, vale lembrar que o holocausto cometido contra os judeus foi feito com apoio de muitas pessoas não-judias em sua época. Mesmo assim, há quem diga que isso não aconteceu e que é mero produto da mídia capitalista ocidental, dominada pelos judeus. Ledo engano. Também acredito que a história não se repete. Se repetir, como seria um holocausto contra os Guarani e Kaiowá, certamente que será como farsa, quer dizer, um crime de genocídio a ser repudiado de todas as formas e punido exemplarmente.
(*) Doutor em História/Arqueologia pela PUCRS e professor da UFGD (eremites@ufgd.edu.br).
Artigo originalmente publicado no portal da Universidade Federal de Grande Dourados
Aquarela de Rogério Fernandes
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