Nenhum fato, talvez, ilustra de maneira tão clara a importância do armazenamento de sementes e grãos quanto a lenda bíblica sobre José do Egito: ao interpretar o sonho do Faraó, previu que sete anos de secas, ataques de pragas e outras calamidades se sucederiam a sete anos de bonança. Confiando na interpretação e nos conselhos de José, o Faraó ordenou que, durante os sete anos de bonança, se fizessem grandes estoques de grãos, tal fato garantiu, àquelas regiões, o privilégio de ser o berço da civilização.

Não diferente dos tempos antigos, hoje, ainda se faz necessário o armazenamento correto dos grãos, nesse intuito surgiu o projeto Transtecon, coordenado pela Profa. Dra. do CEULP/ULBRA Conceição Aparecida Previero e fomentado pelo CNPq, que tem como objetivo validar e transferir tecnologias alternativas de conservação de grãos e sementes para os agricultores e agricultoras do Assentamento Mariana, em Palmas, Tocantins.

O combate ao desperdício é um dos principais desafios para a agricultura do século XXI. As perdas pós-colheita chegam a 23% da produção agrícola de grãos no Brasil. Estes índices são ainda maiores na medida que se reduz o pacote tecnológico utilizado na sua conservação, resultando em perdas elevadas e prejuízos constantes, principalmente aos pequenos produtores. A busca de alternativas para minimizar os prejuízos causados pela pós-colheita tem que ser praticada por toda sociedade, visando um melhor aproveitamento de seus produtos.

A agricultura de subsistência praticada por 4,5 milhões de agricultores familiares, representa cerca de 85% do total de produtores rurais e se caracterizam por possuírem pequenas propriedades, ou por não terem terra, não terem capacidade de investimento em tecnologia e, de modo geral, por terem baixo nível de escolaridade. Nestas pequenas propriedades os grãos e sementes são armazenados em garrafas de vidro e plásticas, latas de flandre, tambores de zinco, sacos de polipropileno trançado e de papel, dentre outros recipientes.

O tratamento químico de sementes é bastante utilizado no sentido de minimizar as perdas causadas por fungos e insetos durante o armazenamento. A redução do uso de químicos está cada vez mais presente em todos os segmentos da sociedade. Atualmente a exploração de técnicas alternativas para proteção de produtos agrícolas na armazenagem tem recebido atenção mundial e o alvo da pesquisa tem se deslocado para propriedades de plantas que apresentam efeitos repelentes aos insetos.

Frente a este contexto e na busca de sensibilizar/mobilizar os agricultores(as) é que está sendo realizado no Assentamento Mariana, em Palmas, o curso ?Preparação De Conservantes Naturais Para Grãos E Sementes?. No qual cerca de 13 famílias estão aprendendo técnicas de armazenamento utilizando produtos vegetais como o nim, cinamomo, eucalipto, pimenta malagueta, falso-açafrão, cravo-da-índia, fumo, louro, alho, cinza, dentre outros.

Parte destes produtos naturais é facilmente encontrada nas propriedades rurais, certamente contribuirá para minimizar os custos de produção e os riscos de contaminação do meio ambiente, como também, o de intoxicação do trabalhador rural que manuseia os insumos químicos.

O presidente da Associação de Moradores do Assentamento Mariana, Getúlio Vieira, fala que o curso além de ?enriquecer o conhecimento sobre os grãos promove a união das famílias local?, pois, permite que estes aprendam e trabalhem juntos. O senhor Vieira afirma ainda, que o curso tem trazido qualidade de vida a comunidade, já que esta ?está relacionada a maneira que se produz?, e conclui elogiando a equipe do Transtecon pois, além de ensinar eles "valorizam o conhecimento que os agricultores possuem do dia-a-dia", diz.