Inclusão acadêmica
Coragem para recomeçar
Fabiane venceu barreiras e o preconceito para voltar a estudar
Representante da quarta geração de moradores da comunidade Areal da Baronesa, localizada no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, Fabiana Figueiredo Xavier, 42 anos, vive desde seu nascimento no local enfrentando barreiras e lutando contra os preconceitos raciais, culturais e sociais herdado de seus antepassados.
Durante duas décadas, a líder comunitária manteve-se longe dos estudos, dedicada à criação dos filhos e à luta pelos direitos de seu povo, mas a chegada da Universidade Luterana do Brasil ao território quilombola mudaria sua história.
Ulbra -- Quando surgiu o desejo de ingressar no ensino superior?
Fabiane -- Em 2017, com a chegada da Universidade aqui na comunidade, descobri que no campus Canoas existe a oferta gratuita de um curso preparatório para o Exame Nacional de Ensino Médio e decidi fazer.
Ulbra -- Como foi seu ingresso na Universidade?
Fabiane - Por seis meses me preparei para o Enem e, com o resultado obtido, conquistei uma bolsa integral para cursar Serviço Social, na modalidade de educação a distância.
Ulbra -- Você se imaginava no ensino superior?
Fabiane -- Sempre gostei muito de estudar e tinha este sonho de retornar à escola, mas, ao constituir família, ter filhos, surgem situações que acabam dificultando a continuação dos estudos.
Ulbra -- As coisas aconteceram no tempo certo ou você se arrepende destes 20 anos de pausa?
Fabiane -- Tudo acontece na hora certa, quando as coisas são para acontecer, pelo menos comigo foi assim e eu consegui voltar.
Ulbra -- Quais as mudanças na sua vida como universitária?
Fabiane - Muita coisa! Um novo leque se abre, principalmente lendo, tendo acesso ao estudo, propriamente dito. Você passa a ver as mesmas coisas com outra visão, totalmente diferente daquilo que enxergava antes de fazer uma faculdade. É um agregar valores que, para mim, não tem preço.
Ulbra -- Por que Serviço Social?
Fabiane -- Eu sempre quis fazer Serviço Social. Acredito que as políticas públicas que existem não contemplam a todos, então, quanto mais profissionais capacitados estiverem no mercado de trabalho, que possam estar participando do planejamento de ações voltadas à comunidade, maior o alcance e o nível de inserção destas pessoas.
Ulbra -- Você já trabalha na área?
Fabiane -- Sou esposa do Alexandre Ribeiro, presidente da Associação Comunitária e Cultural Quilombo do Areal, onde atuo como secretária, recebendo as pessoas que vêm de outros lugares, conhecer o local onde moramos.
Ulbra -- Como foi sua adaptação ao mundo digital para ingressar num curso EAD?
Fabiane -- Eu tinha uma noção, mais através dos meus filhos do que prática, e tive que adentrar neste mundo meio sem saber, ligando para o polo Ulbra Porto Alegre e tirando dúvidas, pedindo auxílio da família. Hoje posso dizer que já estou adaptada ao ambiente virtual, acessando os trabalhos, enviando provas, trocando e-mails, lendo os livros da biblioteca online.
Ulbra -- Há mais pessoas da comunidade na Universidade?
Fabiane -- Hoje, aqui no Areal, temos moradores cursando Enfermagem, Educação Física e uma pessoa formada em Publicidade e Propaganda.
Ulbra -- Como você vê a questão do mercado de trabalho? Há preconceito na hora de concorrer a uma vaga?
Fabiane -- Preconceito sempre tem. Tanto pela cor da pele, como pela condição social, ele sempre existe. Aqui na comunidade temos pessoas que estão desempregadas, mas a gente luta contra este preconceito institucional para que elas possam ter acesso a uma oportunidade profissional.
Ulbra -- Quais são seus planos para depois da graduação?
Fabiane -- Quero me estabilizar profissionalmente e poder fazer aquilo que eu mais gosto que é ajudar as pessoas que realmente precisam, mas, independente do trabalho profissional, quero atuar como voluntária ajudando as comunidades.
Ulbra -- Você pretende expandir seu trabalho para fora da comunidade?
Fabiane -- Pretendo sair daqui e levar o conhecimento que eu obtive ao longo da minha caminhada para outras pessoas, ajudando, encaminhando, mostrando para outras comunidades que elas também podem caminhar com as próprias pernas.
Andréia Pires
Jornalista - MTb.: 17.976
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