A pandemia do novo Coronavírus já mobilizou diversos grupos em prol de ações para ajudar o próximo. Desde costurar máscaras até reunir mantimentos, as pessoas estão focadas em ajudar nesta quarentena. O teólogo e sociólogo Ricardo Willy Rieth, ex-reitor da Ulbra, explica de onde vem essa vontade de tornar a vida do próximo o melhor possível.
"Quem estuda a sociedade e a economia em geral não se ocupa tanto com questões relacionadas à solidariedade e assistencialismo", conta ele. Entretanto, boa parte dos representantes destas ciências adotam a base teórica do utilitarismo para explicar o movimento. O pressuposto da teoria é de que as pessoas são e devem ser consideradas indivíduos, os quais, por natureza, se esforçam por sua própria felicidade. "Outro pressuposto é que isso é o mais adequado e legítimo, por ser o único objetivo oferecido às pessoas do ponto de vista racional", explica. Além disso, os dois pressupostos são complementados por um terceiro, que traz a ideia de que, racionalmente, as pessoas buscam a satisfação dos seus próprios interesses, minimizando suas dificuldades ou falta de utilidade.
Quando se trata da forma dominante de economia, em que segue-se o princípio de mercado, que regulariza as trocas e vendas de meios de produção e consumo, as práticas culturais relacionadas às trocas recíprocas também têm seu papel. "Uma análise atenta vai nos mostrar que parte considerável de nossas práticas de intercâmbio material e simbólico não são reguladas de modo estrito pelo princípio de mercado", comenta. O sociólogo aponta a economia social como a responsável por contribuir de modo decisivo na promoção da justiça social e equidade, visto que ela exerce uma função de dobradiça entre a economia pública e a economia de mercado. A economia social precisa empreender mediante seus mecanismos de solidariedade, eficientes do ponto de vista econômico e que buscam como objetivo promover o desenvolvimento social.
As campanhas de solidariedade que acontecem pelo país todo desempenham uma economia social que está além do mercado e estado. "Um por não se julgar responsável e o outro por ser incapaz em termos de alcance ao conjunto da população", afirma. Com referência ao antropólogo Marcel Mauss, escritor de Ensaio sobre a dádiva, Reith ressalta estudo sobre o fenômeno de trocas periódicas entre tribos e comunidades. "Bens de alto valor são acumulados, não para serem vendidos ou ostentados, mas são presenteados nos períodos previstos para a troca de dádivas, a renovação de vínculos e para socorro e assistência ao outro grupo, clã, ou tribo em situações de calamidade e necessidade."
O doutor ainda faz uma referência a Leonardo, garoto que juntou R$ 21,45 em Antônio Prado para doar a um hospital. "Considerando a economia social e sua importância no mundo de hoje, com ou sem crise pandêmica, aqueles R$ 21,45 sem dúvida valem milhões de vezes mais em relação ao tímido cálculo de Leonardo, pois abrem ao conjunto da humanidade, em especial à maioria em situação de vulnerabilidade, uma perspectiva que a economia de mercado e os estados aparentemente não pretendem ou conseguem dar."
Giovanna Cerveira
Estudante de Jornalismo da Ulbra Canoas