Em tempos de redes sociais cheias de informações falsas ou que não foram apuradas corretamente, o jornalismo tem assumido um protagonismo no combate ao novo coronavírus. Profissionais da saúde do Brasil e do mundo ressaltam diariamente a importância de não seguir recomendações de procedência duvidosa e os veículos de comunicação se tornaram importantes aliados nessa conscientização.
Atenta à cobertura da pandemia, a professora Ana Acker, do curso de Jornalismo da Ulbra Canoas, destacou o papel desempenhado pelos jornalistas na crise desencadeada pela COVID-19. De acordo com ela, a profissão, neste momento, tem uma relevância proporcional aos médicos, enfermeiros e demais profissionais que estão na linha de frente contra o vírus. "Em qualquer situação, por mais difícil que seja, por mais dura e desgastante, sempre vai ter um jornalista, pois ele está ajudando a escrever a história. No futuro, pesquisadores e historiadores vão olhar a imprensa de agora", ressalta.
Para a docente, a crise trouxe uma necessidade ainda maior de a população consumir notícias que tenham credibilidade e, nesse sentido, o jornalismo tradicional segue sendo quem traz uma maior confiança na apuração e na transmissão dessas informações. "Segundo uma matéria do UOL, a partir do Google Analytics, aumentaram as buscas pelo termo 'notícias', e isso só reforça a importância do jornalismo nesse momento, a importância de profissionais capacitados, pessoas que tenham essa preocupação em buscar a palavra de médicos, cientistas, pesquisadores e todos aqueles que de fato entendem sobre o novo coronavírus", frisa.
A cobertura da pandemia
Para a professora, o jornalismo sairá fortalecido quando a pandemia passar, principalmente por não ter se aproveitado da doença para ganhar audiência a qualquer custo. "Eu tenho acompanhado a cobertura de diversos veículos e há uma preocupação de abordar muitas possibilidades em meio a tudo isso. Há relatos mais dramáticos, mas há um certo cuidado nesses relatos, também há muita informação, dicas... No meu ponto de vista, a cobertura é boa e variada, alcançando um outro patamar de importância porque ajuda a combater a desinformação, sem apelar para o sensacionalismo, e isso é uma coisa muito interessante", elogia, ao ressaltar que percebe um trabalho muito rigoroso e apurado, que traz muitos dados e projeções sempre se baseando em pesquisas.
O fim da hegemonia dos grandes veículos de comunicação
Com o fim da hegemonia dos veículos tradicionais, tanto no Brasil como no mundo, a concorrência pela atenção das pessoas fez com que mais informações passassem a circular nas redes sociais. A professora destaca que devemos tratar de maneira positiva essas mudanças. "Nós temos casos importantes de mídias alternativas e coletivos de jornalismo que têm crescido bastante e mostram uma formação de pessoas jovens, a maioria delas recém-saídas das universidades, e que não considero algo prejudicial. É bom tê-los, pois isso, de alguma forma, muda a mídia tradicional. Se nós pegarmos as principais mudanças que tivemos nos veículos tradicionais nos últimos tempos, muitas delas ocorreram por pressão desses veículos menores. Eu acredito, por exemplo, que essa proliferação de podcasts é também algo que eles se antenaram porque os menores começaram a fazer", observa a jornalista, que considera fundamental a transformação que os grandes veículos de comunicação têm passado nos últimos anos.
Combate às fake news e momento para repensar a atuação jornalística
Na visão da docente, essa frente formada pelo jornalismo tradicional, mídias alternativas e coletivos de jornalistas são o que nós temos de melhor para combater a desinformação, fake news e as páginas que não têm conteúdos apurados por jornalistas. "São espaços que não têm um responsável técnico, que não têm uma preocupação de consciência pública, de informação, de ter a prática jornalística de apuração. Essas pessoas só buscam defender determinadas ideias, inventando mentiras, fazendo aquilo que não é jornalismo", completa. Ana Acker ainda ressalta que "o momento é oportuno para repensar o jornalismo e discutir a sua prática perante o público, reforçando a sua importância".
Além disso, a docente relembra que o jornalismo cumpre uma função social significativa. "Nesse momento, o jornalismo se aproxima de profissões da área da saúde, de professores, que têm uma espécie de ideal. Pode ser uma ideia utópica, mas o jornalista tem a consciência de que aquilo que ele faz é importante para alguém. E aquilo que ele faz tem que ter uma função social, uma função pública, senão ele não tem razão de ser", observa.
"Nessa crise que estamos vivendo, as pessoas procuram mais a imprensa para saber do coronavírus. Mesmo que recebam alguma informação no whatsApp, eles vão dar uma checada, pois mexe diretamente com a vida delas. É essa a diferença entre o fenômeno que víamos de descrédito em relação à profissão, em 2018, e o fenômeno que acompanhamos agora em 2020", constata Ana.
Leonardo Magnus
Jornalista Mtb 19305/RS