A busca por medicamentos que auxiliem no tratamento dos pacientes afetados pelo novo coronavírus é incessante. No objetivo de até mesmo encontrar uma cura, os cientistas têm usado cada vez mais as tecnologias ao seu favor. É o caso da bioinformática, que, por meio de softwares, utiliza as informações sobre a sequência e a estrutura das proteínas que ficam na superfície do vírus, podendo ajudar no planejamento de vacinas.
Para entender melhor as potencialidades da bioinformática no combate a COVID-19, entrevistamos o professor Hermes Amorim, especialista na área que utiliza a bioinformática para avaliar as impurezas e os riscos toxicológicos de produtos fármaco-químicos, biotecnológicos e cosméticos.
De acordo com o professor, "as técnicas computacionais auxiliam na racionalidade do processo, promovendo uma aceleração na obtenção dos resultados experimentais in vitro e in vivo. Um dos objetivos da bioinformática é usar softwares e computação para descartar hipóteses equivocadas, mas que seriam testadas, levando a um desperdício de tempo e custos financeiros".
Confira os principais pontos da entrevista:
Bioinformática auxiliando nas projeções e estatísticas
"A informação sobre a sequência do material genético é usada para comparar as mutações que o vírus passa ao circular pelo mundo. Assim, é possível correlacionar essas mutações e outros dados das sequências, como a virulência e o grau de patogenicidade. Isto é, se o vírus se torna mais ou menos agressivo, mais ou menos letal ao entrar em contato com diferentes tipos de populações e etnias."
Como é o processo de análise da bioinformática
"As metodologias usadas na bioinformática representam ferramentas de suma importância para entender o comportamento do vírus, bem como vão cada vez mais auxiliar no planejamento de vacinas e outras estratégias terapêuticas, como no desenvolvimento de fármacos. Resumidamente, funciona assim: com o material genético do vírus sequenciado, se consegue identificar as diferentes proteínas codificadas pelo genoma. A informação sobre a sequência e a estrutura das proteínas que ficam na superfície, a coroa do vírus, podem ser usadas para o planejamento de vacinas. Informações semelhantes sobre outras proteínas-chave, como a RNA polimerase e a protease, já estão sendo usadas para o planejamento de fármacos através das abordagens de Computer Aided Drug Design (CADD, Planejamento de Fármacos Assistido pelo Computador)."
Os laboratórios e a capacidade de análise
"O poder computacional influencia na velocidade da obtenção dos dados. O sequenciamento do genoma humano, que contém aproximadamente 3 bilhões de unidades de DNA distribuídas nos 23 pares de cromossomos, teve seu primeiro rascunho finalizado em 2000, dez anos após o início do projeto. Hoje, a capacidade computacional que dispomos é significativamente maior. O genoma do novo coronavírus, em comparação com o humano, é constituído por aproximadamente 30 mil unidades de RNA (o material genético do vírus é codificado por uma molécula de RNA, e não de DNA). Mesmo assim, se utilizam supercomputadores nos projetos importantes, como o Santos Dumont, nosso principal supercomputador, que está sendo utilizado para se obter sequências do vírus que circula pelo Brasil."
Na ciência, tempo também é dinheiro
"As técnicas computacionais auxiliam na racionalidade do processo, promovendo uma aceleração na obtenção dos resultados experimentais in vitro e in vivo. Um dos objetivos da bioinformática é usar softwares e computação para descartar hipóteses equivocadas, mas que seriam testadas, levando a um desperdício de tempo e custos financeiros."
Um século depois, a evolução é notória
"A gripe espanhola, de 1918, é um exemplo de pandemia que afetou o mundo, matando milhões. Na época, não existiam as técnicas de análise e de desenvolvimento de agentes terapêuticos que usamos hoje. Pela falta delas, estima-se que morreram 17 milhões de pessoas. Mais recentemente, tivemos os surtos envolvendo o H1N1 e o vírus do Ebola. Para esses, vacinas e fármacos foram desenvolvidos com o emprego de técnicas modernas, permitindo que as doenças relacionadas com esses vírus não provocassem tanto estrago."
Pesquisas sobre o coronavírus no Brasil
"Temos que considerar que esse vírus é completamente novo. Passou de um morcego para o ser humano. Assim, estamos na fase de aprendizagem, para que terapias efetivas possam ser desenvolvidas. O Brasil possui excelentes centros de pesquisa em universidades e hospitais para o estudo da doença. Temos também tecnologia e a capacidade de produzir vacinas. Tenho certeza de que o país, através de seus pesquisadores e estruturas de pesquisa, vai dar uma contribuição importante para o estudo e tratamento de doença relacionada ao SARS-COVID-2, o vírus que causa a COVID-19."
Leonardo Magnus
Jornalista Mtb 19305/RS