25/06/2010 13:53
- ULBRA CANOAS
Encontro com José Saramago
Professor conta história do encontro com escritor
Em terra lusitana, eles se conheceram através de uma amiga em comum. No ano seguinte, sendo o diretor cultural da Casa de Portugal em Porto Alegre, José Édil indicou Saramago para participar de um congresso no Brasil.
Confira no depoimento de José Édil a trajetória desse encontro:
Encontro com José Saramago
Vivendo em 1985, em Lisboa, usufruindo de licença da PUCRS e com bolsa do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, atual Instituto Camões, em contato com a escritora Lidia Jorge, com quem tinha uma agradabilíssima relação, falávamos com entusiasmo sobre literatura e literatos, quando ouvi-lhe perguntar-me:
- Então o José Édil conhece o José Saramago?
- Que não... Apenas de lê-lo, seja em prosa, seja em poesia. Claro, há o apreço por sua produção, mas até hoje não se proporcionou uma ocasião para um contato pessoal.
- Mas é incrível... O José Édil conhece todo mundo aqui por Lisboa, e sempre nos têm recebido tão bem em Porto Alegre...
Na cabeça, rodou o filme tantas vezes visto... Desde 1980 eu era diretor cultural da Casa de Portugal, na capital do Estado gaúcho, época em que desenvolvíamos inúmeras atividades, eu sempre contando com o apoio do meu prezadíssimo Carlos Jorge Appel, até hoje companheiro de inúmeras jornadas culturais. De 82 a 84 havíamos levado à Cidade do pôr-do-sol, Antonio Lobo Antunes (Os cus de Judas, O conhecimento do inferno), Fernando Assis Pacheco (Walt, Catalabanza, Quilolo e Volta), Lidia Jorge (O dia dos prodígios, Notícia da cidade silvestre), Denis Machado (O que diz Molero, ele o responsável pelo lançamento em Portugal de Região submersa, do Tabajara Ruas), Carlos do Carmo, já então o maior fadista português do século XX; recebêramos o grande crítico e professor, catedrático da Universidade do Porto, o poeta, José Augusto Seabra, renomado estudioso pessoano, e Alexandre Pinheiro Torres, crítico e romancista ligado ao Neo-ralismo português, ademais da operosa professora do ISLA, de Lisboa, e permanente parceira, Maria Dulce de Matos que em dez anos percorreu as principais Faculdades de Letras gaúchas, divulgando autores lusos; dos brasileiros, ligados às raízes portuguesas, seguidas vezes contávamos com professores, ensaístas e críticos vindos de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, além dos valores do nosso Rio Grande do Sul que atuavam na UFRGS, UNISINOS, PUCRS, FAPA, Ritter dos Reis, La Salle. Na distância do ocorrido, hoje percebo um período de efervescência que culminaria alguns anos depois (1987) com o grande Congresso promovido pela SEDAC (embrião da Secretaria de Estado da Cultura), capitaneada pelo já mencionado Carlos Appel e no qual a grande figura estrangeira foi justamente José Saramago.
Naquela fresca noite lisboeta de abril, a escritora foi ao telefone e ligou para o Saramago. Ao finalizar o diálogo, disse que ele teria "muito gosto" em jantar conosco ainda naquela semana. Na ocasião ele era o presidente da Associação de Escritores Portugueses, entidade que marcara forte presença na época da ditadura salazarista, e foi na sede daquela vetusta Casa que fomos ao seu encontro.
Recebeu-me amavelmente. Comentou sua admiração pelo Brasil e seu povo, sua cultura e seus escritores e disse que não conhecia o Rio Grande do Sul onde seguramente teria satisfação em ir. Afinal, era a terra do Erico Veríssimo, a quem lera com intenso prazer, como era natural para os de sua geração. "Todos aprendemos muito com as narrativas do Erico", afirmou com admiração indisfarçável.
Como de meu hábito quando estou antepersonalidades com quem tenho pouco contato, passei a maior parte do tempo calado, procurando não perder nada. E a conversa entre ele e a Lídia Jorge foi animada. Comentaram sobre seus novos projetos literários, sobre compromissos em Portugal e no exterior, sobre o que se passava nas letras portuguesas, sobre a falta de apoio dos governos para incentivar a produção cultural, sobre taxas e impostos (há pouco entrara em vigor o tal de IVA - Imposto sobre Valor Acrescentado, como ouvi falar depois e que eu não sabia bem o que era, naquele momento...) e coisas de todo o gênero.
Ao nos despedirmos, disse-me que teria prazer em encontrar-me novamente e deu-me o número do seu telefone (ainda não estávamos na era dos telemóveis...). Entendi o gesto como cortesia e até por prurido nem cheguei a passar o número para minha agenda. Embora alguma insistência da Lídia Jorge em encontrarmo-nos novamente com Saramago, retornei ao Brasil sem voltar a estar com ele. Em 86, quando o Appel pensou em promover o Congresso em Porto Alegre, generosamente consultou-me sobre que português convidar. Sugeri o Saramago. Acolhendo a ideia, o então secretário do CODEC pôs-se em contato com o autor de Jangada de pedra que aceitou o convite. Disse-me o Appel que chegaram a mencionar meu nome. Eu já vivia em Pelotas e vibrei com a possibilidade de ter contribuído para a vinda do grande autor a nossa Terra. Quando da visita do escritor não estive presente. Mas é como se tivesse estado. O Appel transmitiu-me tim tim por tim tim o que fora a presença do mago da narrativa em língua portuguesa entre os gaúchos, em pleno torrão adotivo do Erico Veríssimo.
Não voltei a vê-lo pessoalmente, embora goste, talvez cada vez mais, de deliciar-me com suas instigantes narrativas.
Foto - Divulgação da internet
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