Ana Paula Maciel
Ana Paula Maciel: da Biologia ao ativismo ambiental
Ativista do Greenpeace vai palestrar na ULBRA Canoas
Quando Ana Paula Maciel colou grau no curso de Ciências Biológicas – Licenciatura, da ULBRA Canoas, no ano de 2007, ela não poderia imaginar que um dia, por força de sua atividade profissional, se tornaria mundialmente conhecida devido a um protesto de cunho ambiental. Ana Paula, que é ativista da Organização Não Governamental (ONG) Greenpeace, foi presa na Rússia no mês de setembro de 2013 após protestar contra a exploração de petróleo no Ártico. E a egressa da Universidade vai falar a respeito do episódio que teve repercussão internacional e sobre sua trajetória profissional na Aula Magna do curso, que será realizada dia 11.02, às 19h, no auditório A do prédio 14, no campus Canoas.
Ana Paula e mais 29 colegas da mesma ONG foram detidos nas águas do Ártico, em 19.09.2013, pela guarda fronteiriça da Rússia quando tentavam subir na plataforma Prirazlomnaya, da Gazprom, que segundo o Greenpeace descumpre medidas de segurança e ameaça o ecossistema da região. Sob a acusação de pirataria marítima, o grupo de ativistas ficou detido nas cidades russas de Murmansk e São Petersburgo, em um caso de grande repercussão mundial. A ativista brasileira e seus colegas foram soltos sob fiança. Posteriormente, receberam a anistia da acusação de vandalismo, o que possibilitou o retorno de Ana Paula ao Brasil no dia 28.12.2013.
Na Aula Magna, Ana Paula poderá relatar fatos do acontecimento internacional aos acadêmicos. Entretanto, os futuros biólogos terão a possibilidade de conhecerem um pouco mais da trajetória da egressa no ativismo ambiental. Ana está com expectativa para falar à comunidade acadêmica: "Será um imenso prazer poder voltar na Universidade onde me formei para falar desta difícil aventura, que inclui tentar fazer um mundo melhor. Sempre me dá um frio na barriga antes de falar em público, mas aí eu penso que estou entre um grupo de amigos e tudo fica mais fácil".
“A Ana Paula serve como inspiração para o ativismo político civil e da defesa do meio ambiente”, enfatizou o coordenador do curso da ULBRA, Marcos Machado. No entendimento do docente, os fatos que envolveram a ativista, comprovam que na atualidade as ciências biológicas estão recebendo cada vez mais reconhecimento da sociedade por sua relevância. “O biólogo não é mais visto apenas como um técnico, mas sim como um profissional que possui conhecimento fundamental para o exercício da cidadania no Século XXI”. O professor Marcos Machado conhece a trajetória acadêmica de Ana Paula, pois ao ministrar a disciplina de Geologia Histórica e Paleontologia teve a oportunidade de auxiliar a então aluna. “Ela me pediu orientação para a iniciação científica visando à produção de materiais didáticos sobre o ensino de evolução biológica”, recorda o docente.
Toda a comunidade acadêmica poderá conhecer mais detalhes sobre a dedicação de Ana Paula à causa ambiental dia 11.02 na ULBRA Canoas.
ENTREVISTA EXCLUSIVA COM ANA PAULA
ULBRA - Ana Paula, você pode ser lembrada por muito tempo como um exemplo a ser seguido, especialmente pelos jovens, como bióloga e cidadã que defende o futuro do planeta. Qual a contribuição que tu queres deixar neste sentido?
Ana Paula - Eu penso que não gostaria de ser lembrada como um ícone, um mártir ou um herói, porque não sou nada disso, continuo sendo uma pessoa normal cheia de defeitos e contradições, que acredita que faz o seu melhor dentro de seus próprios limites. O que eu realmente gostaria que todos lembrassem é da mensagem que estou tentando deixar, que é preciso fazer algo, é preciso ser gentil e honesto, é preciso se envolver e arcar com a subsequente responsabilidade de seus atos. Se depois de falar com um grupo, uma única pessoa sai dali e pensa no que conversamos e coloca algo em pratica, já me considero uma vencedora em meu objetivo.
ULBRA - Qual a mensagem que tu queres passar aos estudantes das ciências biológicas sobre o caminho profissional que eles terão a seguir? Uma vez que o conhecimento obtido no curso lhes dá clareza da necessidade de agir em defesa do planeta, quais as oportunidades de atividades profissionais e também de voluntariado que tu sugeres a eles?
Ana Paula - Penso que as pessoas que fazem Biologia, o fazem porque acreditam em algo mais, porque estão dispostos a conhecer e dividir o mundo com outras formas de vida. Não existe nenhuma possibilidade de amar algo que não se conhece, penso que é isso que acontece com os biólogos em geral - somos profissionais que amamos muito o que fazemos e, muitas vezes, temos a sorte de acabar fazendo na vida o que combina com esse sonho. Biólogos dificilmente ficarão ricos, e parece que sabemos disso ao entrar no curso. Minha sorte, e penso que a sorte de muitos, é que o curso de Biologia em comparação com outros cursos possui um custo menor. Acredito que mais incentivo deveria ser dado pelas instituições de ensino nesse aspecto, porque no final do dia se contabilizados os lucros e benefícios de mais biólogos formados para o mundo, esta seria uma matemática fácil.
Minha experiência me diz que existem mil lugares para ir e muito a ser feito, independente de onde eu fui e trabalhei, sempre trabalhei com muito comprometimento, vontade e disposição, porque mesmo ganhando pouco ou nada, a felicidade de sentir a realização profissional acontecer é algo que não tem preço. Eventualmente, os frutos virão com o tempo, não tenham medo de acreditar nos seus sonhos e sejam flexíveis.
ULBRA - Como a tua formação no curso te influenciou na postura como ativista em defesa de várias causas?
Ana Paula - Posso afirmar que a ULBRA é abençoada com muitos professores que inspiram, acreditam e te mostram com amor e dedicação os muitos caminhos possíveis e seguir. Com debates, muita risada, conversas, conhecimento, argumento e reflexão, muitas vezes chegava em casa depois de uma aula de Zoo, Paleonto, Biogeografia ou Genética, por exemplo, e não podia dormir pensando, lendo, estudando e buscando mais informação na internet (na época da net discada, lembram? risos), acredito que o comprometimento dos professores me ensinou a ser comprometida, com o planeta, com as outras formas de vida (incluindo outras pessoas) e comigo mesma.
Aconselho aos novos e velhos alunos a aproveitarem ao máximo esse período presente (presente= agora e presente= oferta, brinde, gift) com essas pessoas especiais que têm muito a compartilhar. Envolvam-se e comprometam-se como eles fazem e muito provavelmente você terá a mesma resposta que eu tive enquanto estudava: admiração mútua.
ULBRA - O que os cidadãos comuns (não necessariamente, então, os biólogos) podem fazer para contribuir na preservação do planeta? Dicas simples nas atitudes do dia a dia.
Ana Paula - Acredito que de certa maneira todos somos responsáveis pelo planeta onde moramos, a equação é simples, se utilizamos menos derivados de petróleo (plásticos, combustível, eletricidade...), as grandes companhias de prospecção não precisariam ir buscar mais petróleo tão longe (ártico) ou tão profundo (golfo do México e Pré-sal), eu não precisaria arriscar a vida indo protestar contra eles e não teria que ter ficado três meses presa na Rússia.
Aí vão dicas simples:
- Substitua as sacolas plásticas descartáveis por sacolas que você mesmo leva. Esqueceu a sacola, peça por uma caixinha de papelão. Você usa as sacolinhas para o lixo depois? Se você possui condições financeiras procure pelas biodegradáveis e recicle, se não, somente RECICLE, isso não custa nada para você, mas custa muito para o planeta.
- Não varra a calçada ou lave o carro com a mangueira de água. Entendo que está calor e é uma delícia estar envolvido em atividades com água, mas a água que sai da mangueira passou por um longo processo com alto gasto de energia, para chegar na sua casa, limpa e potável. E, além disso, mais de 1 bilhão de pessoas no mundo não tem acesso à água potável.
- No seu trabalho, leve uma caneca para usar, em vez dos benditos copinhos descartáveis, se você usa 3 copinhos por dia, serão mais de 700 ao ano, multiplique pelo núumero de funcionários e verá o número envolvido. Em sua casa, você provavelmente não usa copos descartáveis, usa? Por que em seu trabalho tem que ser diferente?
- Quando escovar os dentes ou lavar louça, lembre de fechar a torneira quando não for necessário, você verá a diferença no fim do mês em sua conta de água, estará economizando energia e sendo solidário com o mundo.
- Não jogue lixo no chão, leve seu lixo para casa e recicle. Não jogue bitucas de cigarro no chão se você é fumante, elas podem levar até cinco anos para se decompor na natureza, e uma vez que alcançam os oceanos são comidas por peixes que podem morrer intoxicados. Para ajudar a mudar o mundo, não podemos ser preguiçosos, se a lixeira está a 10 passos de distância, vá até lá, ou tenha seu próprio cinzeiro móvel.
ULBRA - Que organizações ambientais brasileiras tu sugeres que as pessoas apoiem, que são dedicadas às causas com as quais tu te identificas?
Ana Paula - Penso que independente da organização que os futuros biólogos queiram apoiar, o importante mesmo é fazer algo. Existem incontáveis organizações sérias que fazem um ótimo trabalho, grandes ou de formiguinha, existe de verdade muito a ser feito. Eu aconselho que cada um de nós busque a sua, de acordo com suas afinidades e crenças.
Se você gosta do Pantanal e quer ir trabalhar lá, digite em um site de busca “voluntariado Pantanal”, “trabalho Pantanal”, se você gosta das planárias da Patagônia, vá atrás, busque, informe-se. Nunca trabalhou antes? Seja honesto, fale em seu currículo sobre seu entusiasmo e vontade de fazer parte do incrível programa de estudar as magníficas planárias da Patagônia. Entendem o que quero dizer? Cada um de nós tem um sonho diferente e neste mundo sedento de pessoas dedicadas, há lugar para todos que realmente queremfazer algo.
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