Tiago Becker
Evento debateu o tema em relação à área de transportes
Pesquisando o risco das vibrações na saúde dos trabalhadores
O professor do curso de Pós-graduação em Engenharia de Segurança da ULBRA Canoas, Tiago Becker, participou do XXVI Congresso Nacional de Ensino e Pesquisa em Transportes, nos meses de outubro e novembro, em Joinvile (SC). O evento, que foi promovido pela Associação Nacional de Ensino e Pesquisa em Transporte (ANPET), teve por objetivo permitir a troca de experiências entre participantes de instituições de pesquisa dedicadas ao tema transportes, contribuindo para o avanço quantitativo e qualitativo da pesquisa no segmento. Tiago foi convidado para debater a temática de como as vibrações em veículos podem representar um risco à saúde de trabalhadores no setor de transportes. Com doutorado em Exposição Ocupacional a Vibrações de Corpo Inteiro, Tiago ministra a disciplina de Ruídos e Vibrações na pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho, além de lecionar nas Engenharias Mecânica e Mecânica Automotiva da ULBRA Canoas.
O interesse do setor de transportes no tema está aumentando com a expectativa em relação às alterações que estão atualmente ocorrendo na norma que regulamenta as atividades ou operações insalubres no Brasil, a NR15. “Entre outros fatores que representam risco à saúde de trabalhadores, a NR15 deverá estabelecer limites para o nível de vibração a que trabalhadores podem ser expostos em ambientes de trabalho. Tanto para o que é conhecido como vibração localizada, que ocorre, por exemplo, no manuseio de ferramentas que vibram, quanto para vibrações de corpo inteiro (VCI), que representam uma preocupação, principalmente, nos que operam veículos fora de estrada, como tratores, por exemplo, mas que, em algumas condições, podem representar um risco para quem atua no setor de transporte, como motoristas de ônibus e caminhões”, exemplificou Tiago.
A exposição prolongada a níveis elevados de VCI está associada, principalmente, a ocorrência de problemas na região lombar da coluna vertebral. Porém, os mesmos problemas relacionados com a exposição à VCI também podem ser causados por outros fatores, como postura inadequada e manuseio de objetos pesados. Em geral, nas atividades em que a exposição à VCI pode ser considerada um fator de risco, outros fatores causadores dos mesmos problemas também estão presentes. A comunidade científica, ao mesmo tempo em que é quase unânime ao apontar a exposição à VCI com um fator de risco para a saúde, reconhece que não é possível saber, com segurança, em que condições a exposição à vibração representa um risco significativo. Ainda assim, diversos países, entre eles o Brasil, estabelecem limites para a exposição de trabalhadores à vibração.
No Brasil, o setor dos transportes envolve uma enorme quantidade de pessoas. Os trabalhadores ligados à área convivem com a dificuldade do país em garantir as condições ideais de infraestrutura, como a pavimentação e a manutenção das rodovias. Entre outros problemas, vias deterioradas tendem a gerar níveis mais elevados de vibração nos veículos e em seus ocupantes. “Assim, poderemos estar diante de um dilema: como garantir a segurança dos trabalhadores sem colocar em risco a viabilidade do transporte de pessoas e cargas no país? A questão deverá representar um desafio para setor de transportes, e enfrentar o problema exigirá um esforço para o desenvolvimento científico e tecnológico em questões associadas ao tema”, ressaltou o professor.
No evento, foi salientado que o desconhecimento quanto aos limites seguros para níveis de vibrações acaba por gerar incertezas. “Por outro lado, se for estabelecido um limite, será possível construir um veículo que garanta, dentro da realidade das estradas brasileiras, que o motorista não será exposto a um determinado nível de vibração? E, se essa possibilidade existir, será viável economicamente? Ainda temos que considerar utilizando a tecnologia atual, pois esse tipo de projeto poderá ser tecnicamente impossível de ser concretizado. O setor de transportes tem demonstrado grande preocupação com o tema, devido ao estado precário de várias estradas brasileiras, condição que ainda é agravada pelo fato de que no país predomina o transporte rodoviário”, observou o docente.
Para o professor, a Universidade poderá contribuir de maneira significativa com o tema, atuando em pesquisas para definir de forma mais clara em que condições a vibração realmente representa um risco para a saúde de trabalhadores, e desenvolvendo, junto com a indústria, tecnologias de controle de vibração em veículos.“Poderemos montar um laboratório para fazer medições de quantificação dos níveis de vibração, além de promover pesquisas ligadas ao desenvolvimento tecnológico para reduzir os níveis de vibração da suspensão de veículos ou mesmo dos assentos que pertencem a eles. Gostaria de participar ativamente das pesquisas relativas à temática. Entretanto, esse assunto terá que ser estudado também por profissionais de outras áreas, como a da Medicina, por exemplo. As universidades com estrutura para pesquisas em áreas associadas ao tema deverão ter um papel fundamental neste processo”, finalizou Tiago.
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