Dia mundial
Tradutores e Intérpretes de Libras têm importante atuação na educação
Profissionais ajudam a inserir a comunidade surda no meio acadêmico
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) divulgados em 2020, mais de 10 milhões de pessoas têm algum problema relacionado à surdez no país, o que equivale a 5% da população. Entre essas pessoas, 2,7 milhões não ouvem nada. Estudos realizados em conjunto pelo Instituto Locomotiva e a Semana da Acessibilidade Surda apontam que somente 7% têm ensino superior completo; 15% frequentaram até o ensino médio, 46% até o fundamental e 32% não possuem grau de instrução. Um número extremamente baixo e que passa pela falta de acessibilidade nas instituições de ensino.
A Ulbra, através do Núcleo de Acessibilidade, tem uma longa trajetória em relação às pessoas com deficiência e sua inserção no ambiente educacional, garantindo a participação igualitária de todos no ensino básico e superior. O Tradutor e Intérprete de Libras (TILs), que tem seu dia mundial celebrado neste 30 de setembro, é um dos eixos principais para que as pessoas com deficiência auditiva possam estudar. São esses profissionais que colaboram na comunicação entre pessoas ouvintes e com deficiência auditiva, ou entre surdos, por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e a língua oral corrente, o português.
Hoje, os nove campi da Ulbra RS e a Rede de Escolas contam com 37 pessoas que possuem deficiência auditiva, entre alunos, professores e funcionários. "Nossas ações têm o foco no estímulo à capacidade e potencialidade das pessoas com deficiência, nunca em suas limitações", diz a coordenadora do Núcleo de Acessibilidade, Gisele Becker. Entre os estudantes, nove são acompanhados em todas as aulas por intérpretes, assim como em provas, quando solicitado. Os funcionários, na sua maioria da área administrativa, são alocados para setores onde os colegas de trabalho têm o curso de Libras e domínio da Língua, facilitando a sua inclusão. Entre os colaboradores, sete são professores, que recebem o suporte dos intérpretes durante todo o semestre. Para acompanhar esse número de alunos e colaboradores, a Ulbra dispõe de oito TILs, que além de atuarem nas salas de aula, ainda traduzem Libras nos eventos e vídeos institucionais.
Entenda o trabalho realizado pelos intérpretes
O Tradutor e Intérprete de Libras realiza seu trabalho nas instituições educacionais, promovendo o acesso dessas pessoas ao ensino e aos conteúdos curriculares comuns. "Nosso trabalho, de um modo geral, é adaptar o aluno em sala de aula atendendo suas necessidades. Todo o conteúdo ministrado pelo professor é compartilhado com o estudante e todas as dúvidas são passadas aos docentes e colegas através da tradução", diz a pedagoga Cíntia da Luz, que atua há quase nove anos na Universidade.
Para Cíntia Segabinazzi, voluntária no Ministério dos Surdos e intérprete na Ulbra há um ano, porém com experiência na Língua há sete anos, o profissional na Universidade e nas escolas é a voz do professor para os surdos. "Amo fazer parte do processo de aprendizagem, aprendemos muito com o surdo. Brinco que me formo um pouquinho em cada curso", diz ela. No decorrer dos semestres, os intérpretes têm acesso ao material passado pelo docente aos alunos, adquirindo conhecimentos e repassando as explicações aos estudantes, sempre com orientação do professor.
Para dar esse suporte em sala de aula aos alunos, segundo o professor de História, Gabriel de Souza, que trabalha há mais de três anos com Libras, a formação do intérprete ocorre em instituições de ensino públicas e privadas e pode ser de nível médio, técnico ou superior. O pré-requisito é a fluência na Libras, pois no curso de tradução e interpretação de língua de sinais haverá a construção da competência tradutória", frisa ele, sobre o que é necessário para começar a carreira. A legislação mais recente, que hoje tramita no Senado, aponta para a formação de nível superior no bacharelado em Letras - Libras como preferencial. "Esses são os pré-requisitos formais para atuar profissionalmente, mas sempre é válido salientar a atuação da pessoa na comunidade surda e nas associações como parte integrante da formação", finaliza.
Experiência e desafios
Para a também pedagoga Jennifer Duro, que trabalha na área há sete anos, a experiência dessa prática é incrível. "Sempre tem coisas novas para aprender", diz ela. E opina que as crianças desde o pré deveriam ter contato com a Língua, assim como em todos os cursos superiores em pelo menos uma disciplina. "O deficientes auditivos estão em toda parte", finaliza, mostrando o quanto é essencial esse contato e a aprendizagem precoce para evitar obstáculos na comunicação.
Desde 2019, Jéssica Fraga trabalha profissionalmente como intérprete, porém usa a língua de sinais desde que sua irmã nasceu com a deficiência. "Eu aprendi Libras em casa, com minha mãe, minha irmã e em contato com outros amigos surdos", diz ela. Atualmente, ela tem formação em curso técnico e está prestes a se formar em Letras - Libras.
Ao ter uma familiar surda e conviver no meio, ela vê como desafio a questão da desinformação por parte da maioria das pessoas. "Algumas desconhecem a cultura surda, como tratar os surdos, e acreditam que pela surdez são menos capazes intelectualmente ou não são capazes de se comunicar", frisa. Segundo ela, a lei que regulamentou a profissão é de 2010. "Muitos nos vêem como quem faz caridade, que ajudam os surdos, mas somos profissionais", completa.
Nathalia Lesnik, formada em Nutrição, também atua há sete anos como TIL, e cita como um dos principais desafios o despreparo de locais e profissionais em relação à inclusão. "Geralmente não estão dispostos a fazer adequações para atender a necessidade do aluno ou funcionário deficiente", frisa ela.
Curiosidades
A primeira língua dos surdos e deficientes auditivos é a Língua Brasileira de Sinais, ou mais conhecida por Libras. A segunda é o Português, e a maioria das pessoas acredita que os surdos só sabem a linguagem gestual, porém, eles conseguem, na medida do possível, compreender a língua portuguesa, ler e escrever a mesma. "A escrita depende muito de cada surdo, alguns têm mais facilidade, outros menos, mas na maioria dos casos realizam a escrita de uma forma um pouco diferenciada, pelo fato de não ouvirem também, às vezes não conseguem conjugar verbos. Na realidade, a estrutura do português escrito para o surdo está associada à estrutura que eles dominam na Libras, onde não existe uma ordem exata gramatical", acrescenta Cíntia Segabinazzi.
Contate o Núcleo de Acessibilidade
Se você quer saber mais sobre o trabalho do Núcleo de Acessibilidade da Ulbra, clique aqui, ou, se precisa do suporte do setor, escreva para acessibilidade.canoas@ulbra.br ou ligue 51 3477-9190.
Naira Nunes
Estagiária de Jornalismo Ulbra Canoas
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