Reconhecimento
Professora da Ulbra integra projeto premiado no Brasil e no exterior
Caroline Kehl é docente do curso de Arquitetura e Urbanismo
O final do ano passado, mesmo em meio à pandemia, conseguiu ser surpreendente para a professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Ulbra, Caroline Kehl. Ela foi reconhecida em dois concursos: um nacional e outro internacional. Tudo começou no recesso de julho de 2020, quando Caroline acabou se deparando com o concurso Casa Saudável-Cidade Saudável, do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU/RS), e também, com o Ideas Covid-19: Nuevas Oportunidades para Ciudades Sostenibles, do Banco de Desarrollo de América Latina (Banco de Desenvolvimento da América Latina) -- CAF. No primeiro, o reconhecimento foi entre os cinco colocados na categoria Espaços Públicos. Já no segundo, a proposta conquistou a terceira colocação.
A docente viu, nessas competições, não só um meio de exercer o seu conhecimento, como também, de trabalhar junto com os outros três arquitetos e seus ex-alunos: Ananda Motta, Isaque Schafer e Mateus Hillebrand. "Eles foram meus alunos em outra instituição e, hoje, quem me ensina são eles. Esse é o sonho de todo professor", relata. Foi desta parceria que nasceu o projeto ÁGUA, baseado em uma intervenção simples e viável, onde o objetivo inicial era o de fornecer água para higienização em comunidades vulneráveis. "Partimos da ideia de que a principal medida para o combate à pandemia do Coronavírus - a higienização das mãos - é tristemente inacessível para muitos", explicou.
Projeto de baixo custo
A proposta do grupo consiste na criação de uma torre responsável pela captação da água da chuva. "Muitas referências foram agregando complexidade à proposta e então se tornou conveniente que as torres virassem uma espécie de pontos de exclamação, especialmente para quem nega a existência da problemática. É uma estrutura funcional e, ao mesmo tempo, simbólica", destacou.
O projeto foi pensado para ser financiado de forma independente, com um custo relativamente baixo. "Para que o sistema possa ser replicado, facilitar seu financiamento era fundamental. Temos plena consciência do quão desigual é nosso país e, infelizmente, de que a base da pirâmide é muito desproporcional em relação ao topo. Desde o princípio, a ideia foi tentar mitigar alguns dos problemas que são consequência disso e possuem impacto na disseminação de doenças como a COVID", explica Caroline.
Desafios na prática
Questionada sobre as dificuldades enfrentadas para a concretização do projeto em meio à pandemia, a docente conta que o tema fez com que ela e os colegas de profissão trouxessem à discussão várias "verdades inconvenientes" e assuntos nada agradáveis, mas que não sentiram dificuldades por causa do trabalho remoto. "De forma geral, a comunicação fica comprometida no desenvolvimento de projetos online, quando não podemos representar de forma gráfica algumas ideias nos meios que possuímos para isso. Mas acho que a comemoração foi a parte mais prejudicada, nesse caso", completa.
Comemoração essa que, à primeira vista, veio com sensação de surpresa, já que, segundo Caroline, desenvolveram o projeto de forma despretensiosa, pensando em aproveitar da melhor forma as discussões por si só. "Ficamos muito felizes em apontar na direção de uma solução que fez sentido para as equipes organizadoras, especialmente quando essa validação foi confirmada no concurso internacional. Porém, o sentimento por trás das premiações é de consternação, uma vez que prova que o equipamento (ou uma solução similar) é necessário não só no Brasil, como em outros países do continente. Então existe uma certa hesitação em comemorar", destacou.
O grupo chegou a cogitar a busca por um financiamento para construção em algum órgão de fomento ou de forma colaborativa, mas ainda não seguiu adiante com a ideia. "Sobre o nosso projeto e todas as centenas de soluções recebidas por ambos os concursos na forma de propostas, só consigo pensar o quanto de potencial é desperdiçado pelos tomadores de decisão. As ideias existem, são viáveis e estão disponíveis. Mas não são efetivadas. E isso, para muito além de ser apenas uma lástima, é um absurdo", lamenta a professora.
Francieli Vareira
Estudante de Jornalismo da Ulbra Canoas
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