Na linha de frente
Professor conta experiência em UTIs de COVID de Porto Alegre e Manaus
Docente da Ulbra atuou em hospitais de referência nas capitais
No início de maio, quando o Rio Grande do Sul registrava menos de 100 mortes por COVID-19, só a cidade de Manaus, no Amazonas, já havia perdido mais de 600 vidas para o Coronavírus. Foi o momento em que o cirurgião Luciano Eifler recebeu o convite de um amigo para participar de uma força-tarefa convocada pelo Ministério da Saúde. O médico emergencista, professor de Medicina da Ulbra, percebeu que devia se juntar às equipes que se desdobravam para atender um sistema de saúde próximo do colapso. No dia 5 daquele mês, o docente embarcou para a capital manauara.
Ao chegar na cidade, Luciano se surpreendeu positivamente com a estrutura que encontrou nos hospitais de referência para o tratamento da COVID-19, Delphina Rinaldi Abdel Aziz e Nilton Lins, este último de campanha e que fora desativado recentemente. "Vimos uma boa estrutura. Quando chegamos lá, tinha tomografia, equipes de nefrologia para hemodiálise, ventiladores mecânicos, equipe de fisioterapia e de enfermagem. Existia só uma indefinição relacionada aos protocolos, por ser uma doença nova, mas nós seguíamos aqueles que eram divulgados pelos órgãos internacionais", lembra o médico.
No entanto, naquele momento, a demanda de pacientes era maior do que o número de equipes disponíveis. "Os hospitais recém tinham sido organizados e montados ou adaptados para atender a essa demanda, mas faltavam ainda alguns profissionais. As escalas de plantão estavam bem apertadas. A gente via alguns colegas que estavam há alguns dias de plantão e precisavam descansar, então nós começamos a entrar nessas escalas para fazer rodízios e começar a ajudar nos atendimentos", conta Luciano.
Observando a situação do sistema de Porto Alegre, onde atua, o médico diz que é possível enxergar um cenário melhor, no que diz respeito ao número de profissionais aptos a atender as internações de pessoas acometidas pela doença. Para ele, o tempo de preparação foi fundamental. "Somos um país de dimensões continentais, então existem diferenças regionais, sim. Acredito que tivemos mais tempo para nos organizarmos, tanto que começamos a chegar próximo do pico da doença só agora. Manaus, no início de maio, já era um epicentro da COVID", destaca.
Mudanças na vida pessoal e profissional
Após uma semana de trabalho intenso em Manaus, onde pôde ajudar na implementação de um sistema de telemedicina e aprender mais sobre a doença, Luciano retornou para Porto Alegre. Mas esse período fora do estado, além de lhe proporcionar experiências profissionais, também o impactou pessoalmente. O médico foi infectado pelo Coronavírus e teve que ficar isolado em um hotel, após três ou quatro dias com febre e tosse seca. Felizmente, não passou disso e o docente não precisou de internação.
Agora, refletindo sobre os dias na capital amazonense e vivenciando o aumento da curva de infectados no Rio Grande do Sul, o médico considera que a pandemia trará mudanças nas relações pessoais e profissionais. "Vai ser uma mudança importante em conceitos, em posturas, em protocolos. A questão do uso da máscara, a lavagem das mãos com frequência, uso do álcool em gel, a retirada dos sapatos para entrar em casa, troca de roupa e banho ao chegar da rua, para que não se leve o vírus para o domicílio", opina.
Além disso, Luciano vê que o processo de digitalização dos hospitais será acelerado por conta do Coronavírus. "É uma novidade que veio para ficar. A telemedicina, por exemplo, ajuda a minimizar esse impacto no sistema de saúde e tem sido fundamental para a troca de informações entre especialistas e centros de menor complexidade." "Sem contar o uso de novos equipamentos, como o ultrassom portátil que levei para Manaus, que é considerado o estetoscópio do século XXI e nos permitiu comparar e ver a evolução das lesões pulmonares desses pacientes com Coronavírus", completa o médico.
Doença também transformará a formação na área da saúde
Quando questionado sobre a formação dos novos profissionais de saúde, a partir da experiência com a COVID-19, o professor foi enfático. "Na universidade, nós estudamos as doenças que estão nos livros, que já são conhecidas e possuem publicações. Os estudos sobre o Coronavírus ainda estão em andamento, então não temos todo o conhecimento sobre como fazer o melhor tratamento." De acordo com Luciano, ainda é possível notar divergências sobre questões importantes, como a contaminação, a reinfecção e medicamentos que podem ser utilizados no tratamento dos pacientes.
O docente também ressalta que, apesar de ser uma novidade para os profissionais de saúde e para os estudantes, diversos protocolos já faziam parte da rotina de todos. "Os equipamentos de proteção individual, por exemplo, nós sempre utilizamos na Universidade, pois existem outras doenças que são extremamente contagiosas, como HIV e hepatite", conclui.
Leonardo Magnus
Jornalista Mtb 19305/RS
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