Gente da Ulbra
Médico recém-formado pela Ulbra conta como os estudos mudaram a sua vida
Único aluno negro, desde o colégio, Bernardo Garcia se formou no dia 10
Em um país onde apenas 27% dos alunos dos 10 principais cursos são negros, a formatura ganha um significado especial para pessoas que, desde sempre, buscaram a igualdade racial na ocupação dos espaços acadêmicos e profissionais. Quando o assunto são as graduações que necessitam de mais investimento, como é o caso da Medicina, a discrepância fica ainda mais visível, abaixo de 5%. Bernardo Rocha Garcia, de 32 anos, entrou para esse seleto grupo na última sexta-feira, dia 10.
Recém-formado, o médico diz ter ciência da importância do feito e da representatividade que a conclusão do curso tem para a população negra. "Foi por meio da educação que os meus pais conseguiram ascender socialmente e dar uma boa criação para mim e para as minhas duas irmãs", reforça o jovem, filho do engenheiro civil José Cláudio e da advogada Lidia. Além de Bernardo, o casal formou, em Medicina, a irmã mais velha, Letícia, na UFCSPA, e formará a caçula, Giovanna, que está no 3º semestre do curso, na Ulbra.
Ainda que tenha tido um suporte maior do que a maioria dos negros do país, Bernardo destaca que o caminho teve muitos obstáculos. "Não foi uma jornada fácil, uma vez que foram anos de cursinho pré-vestibular. Mas consegui a tão sonhada vaga na Medicina. Não é simples ser o único negro na sala de aula. Desde o colégio, essa é uma realidade que eu sempre me deparava, mas isso sempre me deu forças para ser melhor diariamente, provando que eu merecia estar ali."
Como motivação para seguir atrás do seu sonho, o médico conta que se inspirou na trajetória de sua irmã, Letícia. "Na época que eu comecei a graduação, a minha irmã mais velha já cursava Medicina, então ela foi uma referência muito grande e me deu um apoio significativo no início de tudo", lembra Bernardo, ao dizer que, hoje, procura ser também uma boa referência para Giovanna, sua irmã mais nova, e para outros estudantes negros. "Precisamos ocupar esses espaços e saber que é possível chegarmos em posições historicamente brancas", complementa.
Conselhos dos pais e as pedras no caminho
Por manterem uma relação muito próxima com seus pais, Bernardo e as irmãs sempre receberam muitos conselhos pessoais e profissionais, conta o médico recém-formado. "Eles sempre falaram muito sobre como funcionava a vida deles e as dificuldades que surgiram no caminho. Ambos vieram de famílias com pouco poder aquisitivo e encontraram espaços no serviço público, pois, na época, era onde havia mais oportunidades e a cor não era tão determinante. Hoje, mesmo após muita luta, o preconceito com a comunidade negra ainda existe nas empresas privadas", lamenta.
No período de pré-vestibular, Bernardo encontrou certa resistência de seus colegas de cursinho. "Foi na época que as cotas foram oficializadas no RS, o que me fez passar alguns constrangimentos. Meus colegas, equivocadamente, pensavam que eu tinha direito às cotas, e isso gerava certa competitividade, pois encaravam como um privilégio, não um direito adquirido após muita luta e opressão", relembra. No entanto, o jovem nunca prestou vestibular como cotista. "Além de negro, o aluno, para ter direito à cota, precisa ter estudado em colégios públicos, e eu tive o privilégio de meus pais terem tido condições de pagar um colégio particular pra mim", revela.
O futuro promete ser melhor
Apesar de considerar as mudanças mais lentas do que o ideal, o médico vê boas perspectivas para o futuro. "Infelizmente, os passos são curtos e ainda vemos pouca representatividade em certos espaços, principalmente aqueles que são pagos. Uma vez que a desigualdade racial está diretamente ligada à desigualdade social e, historicamente, a comunidade negra é proporcionalmente mais pobre, isso ainda vai levar algum tempo. Por isso as ações afirmativas são tão necessárias para a ascensão social dos negros no Brasil", observa Bernardo.
Agora formado, ele também já pensa nos próximos passos de sua jornada como médico, que está apenas começando. "Pretendo fazer residência em ortopedia e traumatologia, especialidade que gosto e me identifico desde o início do curso. Gosto muito da medicina do esporte e, sem dúvida, vou buscar uma especialização em algo dentro da traumatologia que de ênfase nessa área", finaliza.
Leonardo Magnus
Jornalista Mtb 19305/RS
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