Gente da Ulbra
Doutoranda premiada percorreu 3.700km para estudar na Ulbra
Bibliotecária paraense acaba de iniciar o doutorado no PPGEDU
Para Carla Girard, paraense de 32 anos, a vida acadêmica nunca teve facilidades. Natural de Belém, capital do Pará, ela encontrou suas maiores oportunidades morando no interior do estado. Apesar de sempre lidar com grandes distâncias no trajeto entre interior e capital, a bibliotecária acabou indo mais longe do que esperava: o Rio Grande do Sul. Há duas semanas, desembarcou em Porto Alegre para estudar no doutorado do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGEDU) da Ulbra, em Canoas.
Criada pelos pais, juntamente com duas irmãs, Carla sequer imaginava, durante a infância, que seguiria a vida acadêmica. Quando criança, sonhava em ser jogadora de futebol. "Cheguei a participar de escolinhas e quase parei no time de futsal do Paysandu, mas meu pai não gostava que eu me misturasse muito com os meninos, então acabei abandonando", lembra, ao contar que quase jogou em seu clube do coração. No entanto, diante da impossibilidade de seguir o seu sonho, começou a se dedicar aos estudos.
Ao concluir o ensino médio, prestou vestibular para a universidade federal de seu estado. "Eu cheguei a pensar em fazer jornalismo, mas era um curso muito concorrido. Como já tinha trabalhado numa escola e uma conhecida da minha mãe era bibliotecária, resolvi arriscar nessa área e acabei passando em 10º lugar em Biblioteconomia na UFPA. Na mesma época, passei no curso de eletrotécnica, por influência do meu pai, e fui conciliando os dois cursos."
Mas a empreitada não durou muito tempo. Ao perceber que queria mesmo seguir estudando Biblioteconomia e se dedicar a projetos da área, Carla decidiu interromper o curso de eletrotécnica, para frustração de seu pai. "Ele ficou bem chateado, me disse para não desistir, mas eu já estava decidida", relembra. A decisão se mostrou acertada, pois Carla viria a se encontrar na profissão, onde chegou a enfrentar viagens de 12 horas de barco para seguir trabalhando.
Quando resolveu escolher a vida acadêmica
No início, Carla queria apenas trabalhar como bibliotecária. Não tinha pretensões de cursar mestrado e muito menos um doutorado. "Eu não me via como professora, nem contava com essa hipótese", confessa. Porém, mais uma vez os ventos sopraram para outro lado e, ao conhecer e participar de alguns projetos em bibliotecas, ela decidiu participar do processo seletivo do mestrado em Ciências da Informação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Foi selecionada e, pela primeira vez, teria que deixar seu estado para morar longe de casa.
Ao chegar em terras paraibanas, teve um choque de realidade. Mesmo não sendo tão longe de seu estado natal, a cultura era bem distinta. "Me lembro que tinha muito receio de andar na rua, pois tinha visto algumas pesquisas que apontavam que os homens não respeitavam as mulheres por lá e que haviam muitos casos de assédio e violência contra as mulheres", conta. Ainda assim, se manteve firme em seu objetivo de concluir o mestrado. "Eu gosto de concluir ciclos e sentia que não podia abandonar aquele que estava iniciando, mesmo que pensasse em desistir."
Vida de professora no Pará e projetos desenvolvidos
Com o mestrado concluído e de volta ao Pará, Carla passou a trabalhar cada vez mais com projetos ligados à biblioteconomia, desenvolvendo iniciativas inovadoras. Mais recentemente, em Paragominas, no interior do estado, teve o reconhecimento pelo projeto Cine Mais Biblio, que deu vida nova à biblioteca Douglas Vale da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). "Buscamos diversas parcerias, trouxemos jogos, música, até sorteios com bons prêmios, e isso aproximou a comunidade da biblioteca", conta a doutoranda, que também se divide entre o local e a vida de docente em outras duas instituições de ensino.
Essa e outras iniciativas fizeram com que ela fosse reconhecida em seu meio. No Dia do Bibliotecário, comemorado nesta quinta-feira, 12 de março, Carla recebeu a Medalha Maria Lúcia Pacheco de Almeida, dada pelo Conselho Regional de Biblioteconomia (CRB2), que a coloca como Bibliotecária Destaque da região. O CRB2 representa os bibliotecários dos estados do Pará, Amapá e Tocantins. "Não esperava pelo prêmio, que neste ano tinha a temática voltada para a inovação. Era votação popular e eu nem divulguei. Mas fico muito feliz por terem notado o meu trabalho. É apenas o segundo ano da premiação, então é uma grata surpresa ter esse destaque", comenta a acadêmica da Ulbra, que gravou um vídeo de agradecimento, pois está em período letivo e não pôde comparecer ao evento.
Chegada ao Rio Grande do Sul e adaptação à nova vida
Há pouco tempo no estado, agora Carla busca se adaptar à vida em solo gaúcho como doutorando do PPGEDU. De acordo com a paraense, alguns aspectos ajudam nesse processo. "Além da boa recepção que tive, a Universidade disponibiliza um apart hotel no campus. Isso facilita muito as coisas e é algo que não vemos lá no Norte. É uma estrutura muito boa e não me falta nada", comenta ela, que tem se apoiado e conhecido mais lugares da cidade na companhia de amigos paraenses e de outros estados do Norte e do Nordeste. "Nos primeiros dias, todos nós sentimos falta de casa, mas estamos nos acostumando e gostando de conhecer lugares diferentes."
No dia a dia do campus, a doutoranda tem aulas pela manhã e pela tarde. Com a facilidade de poder fazer a pós-graduação em módulos, ela já tem passagem marcada para voltar ao Pará. "Isso acaba me ajudando muito, pois não tive que me mudar de primeira, deu para passar um tempo e sentir a cidade. Agora eu volto para o Pará, mas em julho retorno para começar mais um módulo do doutorado", adianta a bibliotecária, que tem planos de se mudar para Canoas no próximo ano.
Leonardo Magnus
Jornalista Mtb 19305/RS
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