Reconhecimento
Docente fala sobre posição de destaque entre cientistas brasileiras
Juliana da Silva foi considerada uma das 50 protagonistas em sua área
Em meio às adversidades para fazer ciência no país, todo o reconhecimento a um trabalho bem desenvolvido pode e deve ser considerado motivo de orgulho. Com a professora Juliana da Silva, do Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular Aplicada à Saúde (PPGBioSaúde) da Ulbra, não poderia ser diferente. Em recente pesquisa da plataforma Open Box da Ciência, ela foi escolhida uma das 50 mulheres protagonistas da ciência brasileira, dentro de sua área de atuação. A docente de Ciências Biológicas foi selecionada por dois trabalhos de destaque.
Apesar de se dedicar à atividade desde os anos 1990, a bióloga encarou com surpresa a indicação. Segundo ela, é difícil imaginar tamanho reconhecimento em meio a tantos nomes qualificados. "Há pesquisadoras com diversos trabalhos relevantes, tanto no Brasil como no exterior, então não se pode dizer que é algo esperado", confessa. Juliana também revela que recebeu a notícia com descrédito, até confirmar seu nome na plataforma. "Um ex-aluno me marcou no Facebook, mas entrei e não consegui encontrar meu nome, então acabei nem dando bola naquele momento. Só entrei e consegui entender como funcionava a lista depois que uma segunda pessoa me enviou", conta.
O resultado foi acompanhado com uma enxurrada de parabenizações de colegas de trabalho, familiares, alunos e egressos. "Eu sinto o carinho de todos eles por mim. Me respeitam bastante, me escutam, gostam de trocar ideias e, dessa forma, nós crescemos juntos", diz a professora, que recebe com muita responsabilidade o reconhecimento. "Ver essa admiração dos meus alunos, me deixa muito feliz e orgulhosa, sabendo que estou no caminho certo. Até porque o crescimento não foi só meu, foi nosso. Eu cresci graças aos estudantes e às colaborações que eu tive até hoje", observa.
Percepção sobre o resultado
A professora não conseguia disfarçar a felicidade pelo reconhecimento alcançado. "Mostra que estou fazendo um trabalho de destaque. Fiquei mais feliz ainda por ver que meu nome é citado duas vezes", pontua Juliana, que aparece no site por um artigo de revisão, fruto de uma colaboração internacional, e por um trabalho que compilou diferentes dados de pesquisas realizadas pelo PPGBioSaúde. "O primeiro artigo tem sido muito bem aceito e é em uma área que tenho me dedicado há muitos anos dentro da Ulbra (carvão e danos ao DNA), enquanto o segundo, se eu não me engano, tem mais de 170 citações internacionais", se orgulha.
O interesse pela vida acadêmica e científica
Ciente dos obstáculos que o baixo investimento em ciência impõe, a professora Juliana da Silva destaca que nunca pensou em seguir outro caminho. Ela chegou a trabalhar em escola e hospital, mas se deu conta de que tinha vocação para a vida acadêmica. "Logo vi que o que eu queria mesmo era mestrado e doutorado na área. Desde o início, eu optei por atuar na área que sigo até hoje, de danos ao DNA provocados por agentes ambientais", reforça a docente, que já está há 17 anos na Universidade.
"A Ulbra foi fundamental para o meu desenvolvimento acadêmico, pois foi aqui que eu tive as condições e o espaço necessário para crescer", reconhece Juliana, que atualmente é pesquisadora bolsista de produtividade 1B pelo CNPq, processo que iniciou dentro da Instituição. "Fui crescendo cientificamente e academicamente graças à Universidade", ressalta.
Os desafios para fazer ciência no Brasil
"Quando a gente escolhe esse caminho, nem nos damos conta de todas essas dificuldades para fazer pesquisa no país", confessa a professora. No entanto, ela destaca que, se fosse parar para pensar nisso, sequer teria se graduado em Ciências Biológicas, já que o mercado é complicado desde o início. "É um campo bastante difícil de o profissional se desenvolver e ter um reconhecimento. Conheço vários biólogos que estão sem trabalho", lamenta.
Quando iniciou o seu trabalho na área da genética, Juliana ainda não enxergava tantas dificuldades, como é o caso agora. "É novidade. Tem piorado com o tempo essa falta de reconhecimento da ciência no país. As pessoas precisam entender que só através da ciência vamos conseguir crescer tecnologicamente e levar o Brasil a um desenvolvimento maior."
Conselho para quem pensa em seguir o mesmo caminho
Mesmo com todas as dificuldades do segmento, a professora estimula que os graduandos pensem em seguir a vida acadêmico-científica. Para quem tem isso em mente, ela deixa alguns conselhos de quem já viveu todas as fases da ciência no Brasil. "É preciso dedicação e amor pelo o que se faz. Quando tu tem paixão, gosta de verdade daquilo que tu estás fazendo e se dedica, não tem como não crescer."
Além disso, ela destaca que é fundamental que os graduandos busquem se iniciar cientificamente nos primeiros semestres. "Hoje, os acadêmicos já têm essa consciência de que se começa mais cedo do que na minha época, onde eu fui pensar em fazer pesquisas e publicá-las apenas no mestrado. Não basta só fazer ciência entre as quatro paredes da universidade e não publicar isso", alerta.
De acordo com a pesquisadora, se os futuros mestres e doutores não divulgarem suas produções, ninguém saberá a importância da ciência. "Se não mostrarmos o nosso trabalho, como alguém vai saber qual é a importância de tudo o que fazemos? O desenvolvimento de um kit para diagnóstico de doenças, o desenvolvimento de uma vacina, compreender que a poluição ambiental mata mais que a Aids e que o Ebola." Com essas atitudes, Juliana considera que o pesquisador só tem a crescer em seu meio de atuação.
Leonardo Magnus
Jornalista Mtb 19305/RS
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