Gente da Ulbra
Formando de Design de Interiores dedica graduação à mãe
Shaylon Alves perdeu a mãe para o câncer no início de fevereiro
Influenciado pela mãe Ana Fernandes Alves, uma guerreira que trabalhou como taxista, motorista de aplicativo e empregada doméstica, Shaylon Alves, de 26 anos, se forma no Curso Superior de Tecnologia em Design de Interiores da Ulbra nesta sexta-feira, 6. Todo o apoio dado por Ana ao filho desde a infância foi retribuído enquanto ela enfrentava uma dura batalha contra o câncer. Para tê-la ao seu lado na tão sonhada colação de grau, Shaylon chegou a cursar seis disciplinas enquanto dividia-se entre o hospital e a Universidade.
"Em março do ano passado ela começou a sentir muita falta de ar enquanto caminhava, vieram as tosses e dores fortes nas costas", recorda. Após bateria de exames, Ana foi diagnosticada com líquido no pulmão contendo células cancerígenas. Os cuidados com a mãe iniciaram logo após o diagnóstico. "A partir de então foi correria. Já estava no meio do semestre e comecei a dormir no hospital com ela, de onde eu fazia os trabalhos da faculdade também", lembra. Internada em Porto Alegre, receberam um novo diagnóstico: Ana estava com metástase. "Comecei a ficar com ela todos os dias".
Com o quadro da mãe agravado, Alves pediu demissão do estágio para dedicar-se com exclusividade a ela, acompanhando de perto todo o processo da doença. "Desde a falta de apetite até a perda das habilidades motoras, que, por fim, a levaram à cama. Chorei muito, pois queria que ela visse eu me formando", lamenta.
Após o diagnóstico, Shaylon sabia que para a mãe estar presente na formatura ela teria que ser adiantada. Sendo assim, uniu todas as cadeiras faltantes, incluindo a do TCC, para colar grau no primeiro semestre de 2020. A mãe acompanhou todos os preparativos para a formatura e, mesmo debilitada devido ao estágio da doença, participou da sessão de fotos na prova de toga.
Porém, apesar dos esforços do acadêmico, Ana faleceu no dia 1º de fevereiro. Para ele, a mãe continuará se fazendo presente neste momento tão importante, e, como orador da turma, preparou uma homenagem em seu discurso.
A importância da mãe durante a graduação
Apaixonado por arquitetura, Shaylon conta que os momentos lúdicos de criança inconscientemente influenciaram ele na sua escolha profissional. "Brincava de engenheiro, com aqueles bloquinhos clássicos de madeira." No início da adolescência, já fazia croquis como passatempo, o que era um desenvolvimento da criatividade influenciado pela figura materna.
Em 2016, a tão sonhada vaga na universidade chegou através do Programa Universidade Para Todos (Prouni). "Ela sempre me instigou a buscar uma forma de conseguir chegar lá", conta. Alves recorda o olhar carinhoso que ela tinha, enxergando nele um grande potencial. "Sabia que eu era inteligente e esforçado, repetindo constantemente a frase: 'Você vai conseguir', inclusive no momento em que entreguei o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), com ela já de cama, sem levantar."
As dificuldades que fizeram dele um vencedor
Nascido na cidade de Alegrete, localizado na região oeste do Rio Grande do Sul, Shaylon enfrentou dificuldades desde os primeiros anos da infância, como bullying na escola, fome e não aceitação da homossexualidade por grande parte da família.
Já em Porto Alegre, foi diagnosticado com depressão decorrente dos episódios da infância, e a partir daí passou por diversas instabilidades financeiras, perda de bens materiais e falta de recursos para chegar até a Universidade. "Passei noites em claro por não ter um lugar para dormir devido à falta de moradia." No ano de 2017, cursando seu segundo semestre de faculdade, foi surpreendido pela notícia da morte do irmão mais velho, que havia se envolvido em uma discussão de bar após um jogo de sinuca. "Foi trágico e muito repentino."
Os quatro anos de graduação foram um verdadeiro desafio. "Passei por momentos muito complicados, mas essas coisas só me me motivaram a nunca desistir, a realizar meu sonho, de ser o menino que juntava comida do lixo para sobreviver, e que hoje está graduado", comenta. Muitas atitudes, relembra, foram decididas pensando na mãe, que motivou-o a nunca desistir de seus sonhos. "Às vezes não acredito quando me deparo com a realidade."
Durante a caminhada, Shaylon diz ter aprendido que ter amigos é uma dádiva e um grande tipo de amor, e estas pessoas ele levará junto consigo em todos os momentos. Também aos professores, que criou um carinho especial, agradece por estarem próximos e o terem amparado nos momentos mais difíceis. "Encontrei na Ulbra um acolhimento muito maior do que encontro no restante da minha família. A Universidade me abriu um horizonte e me possibilitou conhecer e criar laços com pessoas maravilhosas", completa.
Emily Ebert
Estagiária de Jornalismo da Ulbra Canoas
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