Gente da Ulbra
Formando angolano conta como fez do Brasil seu segundo lar
Cláudio Lisboa, da Engenharia Química, pretende empreender em Angola
Chegar a um novo país, mesmo que de língua idêntica, é sempre um obstáculo a ser superado. Além do idioma, há desafios como a cultura, fuso-horário, receptividade e, no caso de estudantes, as diferenças no ensino. Cláudio Martinho Lisboa, de 25 anos, teve de passar por todo esse processo de adaptação. Vindo de um país que se recupera de décadas de uma guerra civil, o jovem teve a oportunidade de participar de um programa de bolsas de estudo da companhia petrolífera nacional de Angola, a Sonangol, e desembarcou em terras brasilis em 5 de agosto de 2014.
Agora, prestes a se concluir sua graduação em Engenharia Química na Ulbra, nesta sexta-feira, 14, o jovem angolano, natural da capital Luanda, conta como foi o período em que viveu por aqui. Ele também detalha seus planos para o futuro em sua terra natal, já que seu visto é de estudante e terá que retornar para Angola, onde pretende empreender e aplicar os conhecimentos que adquiriu na Universidade. "É um país com muitas potencialidades na área de biomateriais. A exemplo do Brasil, ainda desenvolveu pouco esse segmento, apesar de ter tido um período de forte crescimento econômico", conta o formando.
Acostumado a visitar periodicamente a família em seu país, ele não esconde que sentirá saudades da sua segunda família, feita no Brasil. "Quando fui para lá, na última vez, eu passei alguns meses e já estava com vontade de voltar", confessa. No entanto, ele também sabe que será uma bela oportunidade de passar por novos desafios. "Pretendo abrir uma startup e oferecer o conhecimento que absorvi com os ótimos professores que tive por aqui. Ainda não há um aproveitamento dos materiais que sobram na indústria pesqueira baseada em Luanda, e isso foi algo que aprendi a fazer no Laboratório de Biomateriais da Ulbra (Biomater)", explica.
Chegada ao Brasil e primeiras impressões sobre o ensino
Desembarcando no Brasil, após participar de um processo seletivo com mais de 4 mil candidatos, logo percebeu as diferenças em relação à sua terra natal. "Cheguei num dia, no outro já tinha aula à noite. Fomos apresentados pelo setor de Relações Internacionais e nos primeiros contatos já percebemos algumas diferenças, principalmente linguísticas, pois muda de país para país, e também há variações de estado para estado." Outra diferença notada por Cláudio foi o ensino. Em Angola, segundo ele, os alunos eram obrigados a decorar as fórmulas. "Aqui, no entanto, os professores dão mais ênfase na aplicação. Você não tem que decorar, apenas saber em quais situações deve aplicar cada uma", observa.
O carinho pelos professores
Para a sua adaptação rápida ao país, Cláudio conta que foi fundamental o acolhimento dos professores da Ulbra. Ele recorda com muito carinho os ensinamentos passados durante o período de sua graduação. "Temos ótimos professores, que nos incentivam a não cruzarmos os braços. Nos motivamos a fazer porque vemos os docentes colocando a mão na massa também, e isso me inspira a não deixar de fazer meu trabalho, independentemente da dificuldade", exalta.
Concluindo uma etapa importante da sua vida, ele diz que não tem nenhum arrependimento da escolha que fez, quando abriu mão de estar perto da família e decidiu se aventurar no Brasil. "Me sinto muito feliz de ter vindo. Apesar de muitos falarem mal da educação do país, há muitas coisas a serem aproveitadas por aqui. Isso foi algo que aprendi aqui, a aproveitar o que é disponibilizado e conseguir destinar os materiais para as coisas certas, reduzindo custos e tendo um resultado melhor, mesmo que apareçam algumas limitações. Essa adaptação às dificuldades, a criatividade para fazer mais com menos, é uma das coisas que irei levar para a minha vida profissional", ressalta.
Oportunidades que conquistou com o tempo
Um dos pontos altos para Cláudio foi a oportunidade de participar com frequência de atividades de laboratório, que acabaram por abrir sua cabeça para as possibilidades do mercado de trabalho. "Tive a oportunidade de participar da iniciação científica, por meio do Biomater e do Centro de Pesquisa em Produto e Desenvolvimento (CEPPED) da Ulbra. Participei de congressos, simpósios e muitas outras atividades. Trabalhar com biomateriais foi muito interessante para a minha formação, pois me abriu a oportunidade de aprender a gerir resíduos que não são bem aproveitados no meu país, como é o caso dos resíduos pesqueiros", conta.
Além da iniciação científica, o jovem estagia na Central de Laboratórios da Universidade. Isso, de acordo com ele, abriu sua visão para o trabalho em equipe, além de poder ter mais contato com outras áreas do saber e também lidar mais com a didática, e isso ajuda muito na hora de desenvolver novos produtos. "Poder acompanhar as aulas práticas, os trabalhos de mestrado e doutorado, a organização, me deu essa visão mais ampla", explica.
Planos para o futuro
Prestes a retornar para Angola, Cláudio já planeja o que fará para se colocar no mercado de trabalho. "Gostei muito dessa área de biomateriais e pretendo seguir, pois, do jeito que o mercado de trabalho está, os recém-formados não podem só sair atrás de empregos, mas também buscar criar empregos. Quero fazer isso: criar parcerias com pequenas e grandes empresas, talvez criar uma startup para alavancar esse mercado, até porque os biomateriais têm diversas aplicações, desde cosméticos até medicina regenerativa, então é um segmento bom para ser explorado", projeta.
Com projetos voltados ao reaproveitamento de resíduos, ele destaca que é uma área que lhe chama a atenção e deve ser onde colocará seus esforços. "O meu TCC foi focado no aproveitamento de escamas de peixes (separação de elementos das escamas - colágeno, hidroxiapatita e quitina). Essa área tem muito a crescer, especialmente na zona pesqueira de Luanda, capital de Angola. "Durante meus estudos, vi que os resíduos da indústria pesqueira podem ser aplicados ao dia a dia dos cidadãos. Isso ajuda no gerenciamento desses resíduos, ajuda a criar produtos, cria oportunidades no mercado de trabalho e abre infinitas portas, portanto é onde pretendo investir inicialmente", adianta.
A hora da despedida
Após mais de 5 anos na Ulbra, Cláudio não esconde o carinho pela Instituição que lhe acolheu. Por tudo o que construiu em sua passagem pelo campus, o jovem ressalta que as pessoas ao seu redor foram essenciais para o sucesso nessa jornada. "Eu enxergo como uma segunda família. Vejo muito dos meus pais nos professores, pois eles sempre tiveram essa determinação e nunca se negaram a trabalhar duro para conseguirem as coisas. Aqui, os professores não deixam de tentar e também procuram ajudar muito os alunos. Acho que isso foi fundamental na minha adaptação, pois a distância de casa é complicada, então foi importante ver algo que me aproxima daquilo que eu via quando morava com os meus pais", elogia.
Em seus últimos momentos ainda como aluno, ele dá um conselho às pessoas que ficam e às que virão: é preciso saber se adaptar e participar mais da vida acadêmica. "Nenhuma instituição é perfeita, todas têm seus erros, mas aqui temos muitas pessoas esforçadas e qualificadas. Professores, coordenadores, alunos, todos dão o seu máximo para ajudar a Universidade. O que eu aconselho é que as pessoas procurem conhecer melhor os espaços, busquem conhecer os serviços, os projetos, para que possam realmente aproveitar todas as potencialidades que a Ulbra tem", finaliza.
Leonardo Magnus
Jornalista Mtb 19305/RS
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