Na Polônia
Aluna de Educação Física competirá no Mundial de Atletismo de Surdos
Aline Bieger integra o Atletismo do Esporte Universitário desde 2018
Amante do atletismo desde o primeiro contato com o esporte, a acadêmica do 5° semestre de bacharelado em Educação Física e integrante do Esporte Universitário da Ulbra, Aline Bieger, 26 anos, foi surpreendida com um convite para integrar a Seleção Brasileira Feminina de Atletismo no Mundial de Atletismo de Surdos 2020, na Polônia.
O chamado veio através da Confederação Brasileira de Desportos de Surdos a partir de um reconhecimento do desempenho da atleta, que já conquistou 42 medalhas, sendo 10 somente no ano de 2019. Outro triunfo para Aline veio com a descoberta de ser a única gaúcha representante brasileira na competição, que ocorrerá entre os dias 18 e 25 de julho na cidade de Radom, na Polônia.
Sem as condições necessárias para custear a viagem, e tampouco patrocínio, Aline iniciou uma campanha na internet para arrecadação de dinheiro. Necessitando de cerca de 11 mil reais, incluindo passagens e hospedagem, a jovem criou uma vaquinha online na qual os interessados podem contribuir espontaneamente.
Trajetória no atletismo
Residente da cidade de Campo Bom, no Vale dos Sinos, Aline conta que quando estava nos anos iniciais do Ensino Fundamental participou de um teste de corrida na escola, organizado pelo município, a fim de buscar novos talentos para participar das competições municipais. "Eu fui uma das mais rápidas, mas como era muito nova acabei ficando na reserva. No outro ano, fui para o time titular e ingressei em um projeto da cidade junto a uma escola particular e passei a treinar três vezes por semana", recorda.
Com o tempo, segundo a atleta, surgiu a necessidade de trabalhar para garantir o sustento e o esporte acabou ficando em segundo plano. "Quando tinha uma competição, eu acabava treinando apenas dois meses antes, porque trabalhava muito e ficava sem tempo de me dedicar exclusivamente", contou.
Mas mesmo com as adversidades, o talento de Aline se mostrou mais forte e a corredora, até o ano de 2014, já colecionava cerca de 32 medalhas. Estas foram alcançadas em competições como Meeting Gaúcho, Jogos Universitários Gaúchos (JUGs), Jogos Abertos de Canoas (JAC) e a medalha de ouro no Campeonato Estadual no revezamento 4x400.
Deficiência auditiva e a Universidade
Aline nasceu com deficiência auditiva no ouvido esquerdo, que comprometeu 100% de sua audição. Em abril de 2018 descobriu uma condição em seus genes que acarretou na perda de 80% da audição do ouvido direito. Mas, para ela, não há barreiras que não possam ser ultrapassadas. No segundo semestre de 2017, já graduada na licenciatura de Educação Física, Aline resolveu dar mais um passo em sua formação: iniciou na Ulbra o bacharelado em seu curso. Hoje no 5° semestre, conta que o atletismo a levou à graduação. "É um esporte que eu amo e foi por amar que me interessei pela educação física."
A graduanda ingressou sua segunda formação no campus Guaíba da Ulbra. Entretanto, quando os primeiros sintomas da deficiência no ouvido direito começaram, foi transferida para Canoas. "Quando eu tive a perda auditiva comecei a ter muita tontura. Como ia de carro, acabei não conseguindo mais me locomover sozinha."
Inclusão no esporte e representação
"O esporte, para mim, é algo que amo, e, logo que voltei a ter condições de praticar atividades físicas após a perda auditiva, procurei a equipe de atletismo e voltei a treinar." Segundo ela, as séries de adaptações que necessitou realizar foram incentivadas pela prática do atletismo.
Competindo, até então, com ouvintes, Aline conta que uma das maiores dificuldades que enfrenta é escutar o tiro, que sinaliza o início da corrida. "Peço para colocarem o megafone próximo, pois ajuda e sinto um pouco a vibração, mas sempre acabo saindo atrasada."
Desta vez, participará de uma competição destinada à participação apenas do público com deficiência auditiva, que utiliza-se de equipamentos e sistemas de luzes de led para promover as sinalizações necessárias.
Para ela, esta oportunidade é uma forma de mostrar a importância da representação no esporte. "É uma competição muito importante, pois, além de representar o Brasil, será incrível para a minha carreira. Com certeza, umas das coisas mais importantes é, também, mostrar a necessidade de apoio para o esporte de surdos", concluiu.
Emily Ebert
Estagiária de Jornalismo da Ulbra Canoas
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