Estudos sobre o espaço
Cientista lota auditório em aula inaugural das licenciaturas
Palestra abordou descobertas sobre os buracos negros
Nesta segunda-feira, 6, os alunos dos cursos de licenciatura da Ulbra receberam uma das cientistas brasileiras de maior expressão internacional. O auditório 219 do prédio 1 ficou lotado, devido à curiosidade pelo tema abordado na palestra da professora Dra. Thaísa Storchi Bergmann.
Responsável pelo grupo de pesquisa do Departamento de Astronomia da UFRGS, a docente apresentou detalhes de seu estudo sobre Buracos Negros Supermassivos e também falou sobre a relevância da reprodução da primeira imagem de um buraco negro. Em entrevista, a professora destacou que o marco representa um avanço importante nos estudos daquilo que, segundo ela, "é o maior gerador de energia do universo", superando em muito a fusão nuclear.
Questionada sobre a complexidade do trabalho realizado pelas equipes que conseguiram reproduzir a primeira imagem de um buraco negro, a astrofísica exemplificou quão difícil foi chegar ao resultado obtido por eles. "O buraco negro é muito pequeno, está no centro das galáxias e elas estão em distâncias muito grandes. Para efeito de comparação: é como se nós quiséssemos enxergar uma laranja na superfície da Lua", explicou.
Além de confirmar a existência dos buracos negros, o trabalho dos cientistas provou que a Teoria da Relatividade Geral, proposta por Einstein em 1915, está certa e somente a partir dela é possível formar os buracos negros. Casualmente, isso ocorreu 100 anos depois do primeiro experimento que testou a Teoria da Relatividade Geral, realizado por uma expedição vinda dos Estados Unidos, em Sobral, no dia 29 de maio de 1919.
Confira mais detalhes da entrevista abaixo:
O surgimento do interesse pela ciência
Eu sempre gostei de Ciências, desde adolescente, com 12 ou 13 anos. Eu tinha um laboratório de Química e Biologia. Eu tinha aqueles compostos químicos, fazia as reações, tinha um microscópio, olhava os bichinhos, as asinhas... Então, eu gostava de brincar daquilo, mas levava na brincadeira mesmo. Depois, eu entrei na universidade sem saber muito bem o que eu queria fazer, comecei na Arquitetura, por influência de uma prima. No entanto, eu fazia aula de Física no Instituto de Física, então passava pelos laboratórios e, a partir disso, eu vi que era o que eu queria fazer. Após seis meses, eu me transferi.
Carreira como astrofísica
No último ano do curso de Física, eu tinha um professor que estava começando o Departamento de Astronomia e me convidou para participar. Ele me deu alguns livros para ler e aquilo me capturou, comecei a gostar cada vez mais. No final das contas, fiz mestrado, doutorado, pós-doutorado. Toda a minha vida científica, desde os anos 1980, tem sido dedicada às galáxias e a interação delas com seus buracos negros.
Desafios para reproduzir a primeira imagem de um buraco negro
É uma técnica bem complexa. A observação já é um desafio tecnológico, tanto que elas foram realizadas em 2017. Por coincidência, eu estou no comitê do Atacama Large Millimeter Array (ALMA), que se reúne uma vez por ano para escolher os projetos que vão ser realizados. Esse comitê é composto por vários países que têm o telescópio, como Estados Unidos, Canadá, Coréia, China, Japão, entre outros. E, por ter tantas nacionalidades envolvidas, há uma grande competição e muitos projetos são propostos. Ou seja, nós temos que julgar e ranquear esses projetos.
Como foi o processo parar chegar ao resultado final
Nesse caso específico, a proposta era utilizar o ALMA e outras sete antenas para fazer medidas do buraco negro da Via Láctea e do M87. Então, a partir disso, esses telescópios observam, juntamente com um relógio atômico muito preciso. São centenas de terabytes por noite, que são guardados juntos desse padrão de tempo e, após tudo isso, juntam todos esses dados em um instituto e fazem a combinação dos sinais para formar a imagem. A técnica utilizada foi a interferometria, que combina os sinais de várias antenas para simular um telescópio gigante, cujo diâmetro é a distância entre essas antenas.
Resultado exigiu trabalho em equipe
A cientista Katie Bouman, uma das responsáveis pela reprodução da imagem, ganhou grande visibilidade, mas foram mais de 200 pessoas que trabalharam nesse projeto. Creio que essa repercussão se deu muito por ela ser mulher e jovem, em um ambiente que isso não é tão comum.
Representatividade feminina na ciência
Cresceu bastante a participação das mulheres, apesar de ainda existir casos de discriminação de gênero e racial. Eu vejo uma evolução. Mas é claro que ainda são necessárias ações afirmativas.
Próximos passos nas pesquisas sobre buracos negros
Esse experimento bem-sucedido dá um grande impulso para a utilização da técnica de interferometria, que pode melhorar a observação dos buracos negros. Então, a tendência é que se multipliquem os estudos utilizando essa técnica, obtendo outros bons resultados.
Leonardo Magnus
Jornalista Mtb 19305/RS
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