Pesquisa
Docente da Ulbra resgata história dos primeiros médicos negros do estado
Estudo fomenta debate sobre políticas afirmativas no começo do século XX
No bairro Protásio Alves, na zona leste de Porto Alegre, está a Avenida Dr. Luciano Raul Panatieri, via batizada em homenagem àquele que, segundo os registros oficiais, teria sido o primeiro médico negro do estado do Rio Grande do Sul. Entretanto, a veracidade desse fato agora é colocada em cheque por uma pesquisa desenvolvida pela professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Ulbra (PPGEDU), Maria Angélica Zubaram.
Após três anos de análise do jornal pós-abolicionista O Exemplo, editado entre 1892 e 1930, a historiadora se deparou com os nomes de três ativistas afro-brasileiros que ajudam a fazer uma revisão histórica do tema: Arnaldo Dutra (1888-1929), Diógenes Baptista (1891-1962).e Alcídes Feijó Chagas de Carvalho (1893-1958), esse último apontado pela educadora como o verdadeiro pioneiro dentre os profissionais negros da medicina gaúcha e diretor do jornal.
"Não só os nomes deles foram relegados ao esquecimento, mas o da instituição de ensino superior onde estudaram também", revela a educadora ao se referir à Escola Médico-cirúrgica de Porto Alegre, faculdade que funcionou de 1915 a 1932, quando foi fechada devido a um lobby da categoria médica da época contrária à visão de seus docentes sobre a homeopatia.
Estatutos mostram que já havia inclusão no começo do século XX
Em meio a documentos empoeirados do Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul (MUHM), o pesquisador Vitor Costa, coautor do estudo ao lado de Maria Angélica, encontrou os antigos estatutos da Escola Médico-cirúrgica da Capital.
Nas atas, uma informação chamou a atenção da dupla. No alvorecer do século XX, menos de 50 anos após a abolição da escravatura, e quase um século antes da aprovação das políticas afirmativas de inclusão social e racial na UFRGS, a esquecida IES já concedia bolsas sociais para acadêmicos negros e de baixa renda. "As cotas não são uma novidade como antes imaginávamos, já em 1918 a instituição destinava oito matrículas de cada turma de calouros para alunos de origem pobre. Se hoje isso ainda gera um tipo de polêmica, imagine naquela época", reflete a estudiosa.
Chagas Carvalho e Arnaldo Dutra também contribuíram para fortalecer a inclusão das camadas populares da sociedade porto-alegrense no mercado de trabalho. Na redação de O Exemplo, davam aulas preparatórias para os exames de admissão no ensino primário da cidade.
Para a professora do PPGEDU, suas descobertas são importantes não só para aqueles que se dedicam a conhecer melhor o desenvolvimento da Saúde Pública no Brasil, mas também para entender o lastro que o racismo ainda exerce sob a opinião pública. "Uma das finalidades da história é a sua função social. E com essa pesquisa, quero provar que a formação da Medicina gaúcha em seus anos iniciais foi muito mais plural e diversa do que pensávamos", garante Angélica, que nos próximos meses pretende publicar um artigo sobre o assunto em um periódico especializado da área.
Pesquisa ganha destaque em mostra na capital
No dia 10 de abril, Maria Angélica e Costa apresentaram o estudo e conduziram um bate-papo sobre o tema durante a abertura da mostra Dr. Luciano Raul Panatieri e o protagonismo de médicos negros na história da medicina do RS, que ocorre no Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul (Av. Independência, 270, em Porto Alegre), espaço mantido pelo Simers. A exposição pode ser visitada até 31 de maio e traz fotos e o acervo pessoal e profissional de Panatieri.
Marcus Perez
Jornalista Mtb 17.602
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