Sabrina tem autismo e é atendida na Clínica-escola de Odontologia desde os 2 anos de idade Foto: Luiz Munhoz/Ulbra

Sabrina Mantobranco sempre encontrou dificuldades para agendar consultas ambulatoriais em hospitais. Pelo fato de ser autista, a jovem foi recusada por diversos profissionais, que viam em seu comportamento agitado um empecilho para tratamentos e exames de rotina. "Geralmente os médicos alegam que é difícil lidar com ela e se recusam a atender, o que acaba sendo um transtorno para a nossa família", conta a mãe da adolescente, a canoense Mariza Bandeira, que há 15 anos acompanha a filha de 17 em consultas da Clínica-escola de Odontologia da Ulbra.

Com um sorriso no rosto, a garota não demonstrou medo algum ao segurar a mão de uma estudante e entrar no bloco cirúrgico do prédio 59 do campus Canoas, na tarde da última quinta-feira, 20 de abril. Assim como Sabrina, centenas de outras pessoas com deficiência intelectual e física recebem atendimento odontológico gratuito na Universidade, através do projeto Conquistando Saúde.

A iniciativa do curso de bacharelado em Odontologia oferece serviços cirúrgicos e clínicos na área da profilaxia oral, sempre às quintas-feiras à tarde. "A criança ou o adulto com deficiência não tem mais ou menos doenças na cavidade bucal. O que ocorre é que, devido à falta de mobilidade e cognição, muitos deles acabam carecendo da autonomia necessária para a prevenção de cáries e problemas na gengiva", explica a professora Simone Helena Ferreira, que desde o ano 2000 coordena a ação.

Ainda de acordo com a educadora, alguns pacientes demandam atenção especial, o que exige um preparo maior por parte da equipe de alunos responsável pelos procedimentos odontológicos. "Não dá para colocar um indivíduo com paralisia cerebral para ser atendido como alguém que não tem deficiência, pois ele não consegue colocar a cabeça na cadeira ou precisa ser imobilizado durante a consulta", avalia Simone. 

Para garantir todo o suporte que os PCDs precisam, a odontologista costuma capacitar em torno de 12 alunos do 8º, 9º e 10º semestres para o trabalho voluntário que, dependendo das circunstâncias, é realizado em duplas. De acordo com Simone, mais de 200 atendimentos são efetuados anualmente através do projeto, que proporciona prática profissional para o aluno e tranquilidade para inúmeros pais, como Marisa.

"Aqui na Ulbra os estudantes têm muita paciência e é raro encontrar dentistas que saibam lidar bem com pessoas com algum tipo de deficiência", recomenda aliviada a dona de casa que, indiretamente, também é beneficiada pela atividade de extensão.

Atualmente, não há previsão para a abertura de agenda para novas consultas, mas interessados podem entrar em uma lista de espera ligando para (51) 3462-9514 ou enviando um e-mail para odontologia.canoas@ulbra.br.

Marcus Perez 
Jornalista Mtb 17.602