Saúde
"A morte precisa ser tratada com dignidade", diz J.J Camargo em palestra
Médico e escritor palestrou, nesta segunda-feira, para alunos da Ulbra
Histórias de vida de pacientes, experiências pessoais e testemunhos de ética profissional deram o tom da palestra Vamos Falar de Finitude, proferida pelo médico, escritor e colunista do Jornal Zero Hora, J.J. Camargo, nesta segunda-feira, dia 6 de novembro, no auditório 220 do prédio 1.
Organizada pela Liga de Cuidados Paliativos do curso de Medicina da Ulbra, a iniciativa, aberta ao público, buscou promover uma reflexão sobre a importância do auxílio medicinal e psicológico para o bem-estar e conforto de doentes terminais. "Pacientes sem perspectiva de cura precisam e merecem ser tratados em todas as dimensões. Dentro da nossa graduação, percebemos uma lacuna significativa neste segmento tão relevante para a formação de futuros trabalhadores da área da saúde. Por isso, decidimos fundar a agremiação e organizar ações que possam contribuir para a qualificação do estudante, como essa que realizamos hoje", argumentou o professor Cézar Luiz Gonsalvez Diogo, professor da Universidade e coordenador da Liga, atualmente composta por ele e outros seis universitários.
Ao longo de uma hora, Camargo, conhecido por obras como A Tristeza Pode Esperar, Felicidade é o que Conta e Não Pense por Mim, relembrou fatos marcantes de sua carreira e fez importantes recomendações para os alunos do curso sobre a delicada relação humana que se forma em torno do atendimento clínico e ambulatorial de hospitais. "A personalidade do médico é a primeira droga que ele ministra aos pacientes", comentou o palestrante, ao explicar como a forma de se expressar de um profissional da saúde pode influenciar na maneira como o enfermo pode encarar sua doença, independente da gravidade.
Solidão é maior dentro das UTIS, afirma o pneumologista
Em um discurso pontuado pelo humanismo, pela empatia e compaixão com o próximo, sentimentos que são indispensáveis ao exercício da Medicina, o pneumologista de 71 anos, questionou a manutenção de pessoas em situação terminal em Unidades de Tratamento Intensivo, espaço impróprio para estes casos, conforme garante. "UTI não é lugar para se morrer, mas para se lutar pela vida", frisou o conferencista ao citar a solidão, a distância de familiares e entes queridos, como fatores que colaboram para o agravamento do quadro clínico dos internos.
Para ele, pequenos gestos como abraçar uma mãe que acabara de perder um filho, contornar a mesa do consultório e sentar-se ao lado paciente ao informar um diagnóstico terminal ou simplesmente ouvir o desabafo de quem está perdendo a batalha contra um câncer podem ser determinantes para o processo de aceitação, de luto e de conciliação. "A morte é natural e, não sendo evitável, precisa ser tratada com dignidade", pontuou Camargo diante dos aplausos de mais de 200 estudantes e professores.
Mais do que uma palestra memorável, o encontro marcou também o lançamento oficial da nova Liga. "Em breve começaremos a planejar nosso calendário de ações para 2018", comemorou Diogo após o término da atividade.
Marcus Perez
Jornalista MTb 17.602
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