Espetáculo integrou a série de concertos dominicais da Orquestra, realizados mensalmente na Associação Leopoldina Juvenil Foto: Luiz Munhoz/Ulbra

Nem a chuva intensa e os ventos de mais de 100km/h impediram Ruben Valter Heineck, de 99 anos, de prestigiar o espetáculo da Orquestra de Câmara da Ulbra, neste domingo, 1º de outubro, na sede da Associação Leopoldina Juvenil, em Porto Alegre. Católico de descendência alemã, o aposentado enfrentou o tempo nada convidativo apenas para ouvir o conjunto de cordas da qual é fã. "Gosto de música clássica e erudita desde a minha juventude, e é com muito prazer que venho assistir a mais esse concerto da Orquestra da Ulbra, que sempre conta com programas maravilhosos", comentou Heineck, ao destacar sua predileção pelo repertório escolhido pelos músicos. Dessa vez, não seria diferente. 

Em alusão ao aniversário de 500 anos da Reforma Luterana, comemorado no mundo todo em 31 de outubro, o grupo preparou uma homenagem a três compositores barrocos identificados com o luteranismo: Johann Sebastian Bach, Georg Philipp Telemann e Carl Philipp Emanuel Bach.  

Conforme o maestro Thiago Flores, que há mais de 20 anos conduz o conjunto de cordas, a religião dos arranjadores não foi o único fator a influenciar a seleção musical da noite. "Muito mais do que cristãos luteranos, os três eram instrumentistas virtuosos e que contribuíram para o gênero musical em que se inseriam", salientou o regente, que dividiu as batutas com o flautista e doutorando em musicologia pela Universidade de Sorbonne, na França, Rodrigo Calveyra. 

O solista, especialmente convidado para a ocasião, se dividiu entre a flauta doce e a transversal nas três primeiras peças do show, conduzidas por Flores, que, logo em seguida assumiu seu lugar junto à plateia. Mais à vontade, Calveyra, que é especialista em música Barroca, intercalou seus solos com a regência da Orquestra, proporcionando o ponto alto do espetáculo.  

Nas primeiras fileiras, a jovem Victória Berro não desgrudava os olhos do palco.  Ao lado de outros 25 jovens entre 12 e 18 anos, a adolescente integra a Orquestra Municipal Sinfônica de Imbé, banda de sopro do litoral gaúcho que veio à Capital apenas para ver o conjunto de cordas. "Nós sempre buscamos conhecimento, por isso, assistimos as apresentações de outros grupos clássicos e populares", comentou a violinista. Ela coordena o coletivo de mais de 30 alunos do ensino médio que, graças a um projeto da prefeitura do balneário, tem aulas periódicas de música.  Ao término do show, Victória e seus colegas conheceram os 17 músicos da Ulbra.     

Mostra temática foi exibida na entrada do espetáculo

Logo na entrada do clube porto-alegrense, a atmosfera confessional já ambientava o público para o concerto, marcado para as 19h. Espalhados pelo hall de entrada da Associação, 24 painéis com reproduções de gravuras do século XVI do alemão Lucas Cranach e de outros pintores de sua época contavam a história de Martinho Lutero e suas teses.

Era a mostra 'A Reforma através da Arte', série produzida pela Universidade Luterana no Brasil, com o intuito de elucidar a relação entre a fé protestante e as produções artísticas do renascentismo. "São quadros que mostram como as pessoas viviam e eram há cinco séculos atrás. Mais do que isso, são obras que traduzem valores como liberdade, fé e esperança, valores que nortearam todo o movimento da reforma", explica o vice-reitor da Ulbra, Ricardo Willy Rieth, que em viagem recente à Alemanha providenciou algumas das ilustrações, que acompanhadas dos textos do professor uruguaio, Christian Hoffmann, compõem a exposição. 

Marcus de Freitas Perez 
Jornalista MTb 17.602