Cinema
Filme produzido por ex-aluna será exibido no Festival de Gramado
Mariani Ferreira produziu e roteirizou o longa 'O Caso do Homem Errado'
O cinema vem sendo o palco de atuação da egressa do curso de Jornalismo da Ulbra Canoas, Mariani Ferreira, seja no roteiro, na produção ou até mesmo na direção. Seu mais recente trabalho é o filme "O Caso do Homem Errado", que será exibido no Festival de Cinema de Gramado, dentro da Mostra Gaúcha de Longas, na próxima segunda-feira, 21 de agosto, às 16h.
O longa-metragem conta a história do operário Júlio César Pinto, negro, casado e sem antecedentes criminais, que em maio de 1987 foi morto pela Brigada Militar depois de ser confundido com um assaltante. O operário estava entre a multidão que observava a fuga de homens que haviam assaltado um supermercado no bairro Partenon, em Porto Alegre, quando sofreu um ataque epilético, sendo confundido com um dos criminosos e detido pela polícia.
O crime ganhou destaque na época após o repórter fotográfico do jornal Zero Hora, Ronaldo Bernardi, registrar Júlio César sendo colocado com vida na viatura da BM e, depois, chegar morto por tiros ao hospital.
Alusivo aos 30 anos do trágico episódio, o filme propõe um debate sobre a triste realidade brasileira do extermínio da população negra pelas forças policiais no Brasil. A egressa atuou como roteirista e produtora executiva do filme, que conta com direção de Camila de Moraes. Nesta entrevista, Mariani fala sobre o trabalho e sua trajetória na produção audiovisual.
Ulbra -- O que te levou a trabalhar no filme "O Caso do Homem Errado?
Mariani - Eu quis trabalhar nesse projeto pois ele resgata um caso muito emblemático, que é a execução pela Brigada Militar do operário Júlio César, nos anos 1980, em Porto Alegre. É um caso que ficou muito conhecido, mas acabou esquecido. Achei fundamental participar de um longa que se propõe a divulgar essa morte, num momento em que vivemos um genocídio da juventude negra. Mais de 30 mil jovens são mortos por ano no Brasil, sendo que 77% são negros.
Ulbra - Como foi o trabalho de pesquisa para a produção do filme?
Mariani - Eu assino a produção executiva junto com a diretora, Camila de Moraes. Nossa função era encontrar as fontes e viabilizar toda a gravação de depoimentos. Viabilizar tanto no sentido de criar uma agenda para que elas ocorressem, como buscar os recursos para realizar o trabalho.
Ulbra -- Você é ligada a algum movimento social?
Mariani - Não integro nenhum grupo específico do movimento negro ou movimento de mulheres, mas sou uma militante, a partir do momento que considero toda a minha existência, assim como a minha arte, um ato de afirmação política. Se você é negro no Brasil, a chance de ser assassinado ou preso é muito maior. Isso ocorre porque nossas instituições são racistas.
Ulbra -- Por falar em racismo, qual é o principal propósito desse documentário?
Mariani - É falar sobre o racismo no Brasil, a violência policial que vitima, principalmente, o povo negro, e resgatar uma morte que, apesar de toda a repercussão, ficou impune.
Ulbra - Apesar do filme ainda não ter entrado no circuito de exibição, ocorreu uma sessão de pré-estreia dia 11 de maio. Qual foi a receptividade?
Mariani - A sessão realizada no cine Capitólio, no centro de Porto Alegre, ficou lotada e a receptividade foi muito boa. Antes da exibição, houve uma marcha da Esquina Democrática até o cinema, para denunciar a violência dos órgãos de segurança contra a população negra.
Ulbra - Qual a contribuição que o jornalismo da Ulbra vem prestando para seus trabalhos no cinema?
Mariani - A academia me preparou para pensar, para criar um discurso autoral, para me impor. Muito mais do que habilidades técnicas para exercer uma profissão, ter feito jornalismo, e ter tido aulas com alguns professores realmente especiais, fez com que eu me tornasse não apenas uma profissional melhor, mas um ser humano melhor.
Ulbra - Você já atuou como roteirista e diretora no curta-metragem "Léo". Qual a sua trajetória nessa área?
Mariani - Eu sempre fui apaixonada por cinema, mas acabei me graduando em Jornalismo. Minha carreira como repórter se deu principalmente na área cultural e, mais tarde, me tornei crítica de cinema. Mas a vontade de trabalhar no meio continuava e, em 2012, eu comecei a fazer cursos de extensão sobre audiovisual. Naquele mesmo ano ganhei um edital do Ministério da Cultura, que foi o que financiou o meu primeiro filme. No final de 2015, eu decidi abandonar de vez o jornalismo para me dedicar exclusivamente ao audiovisual.
Ulbra - Em quais outros projetos de cinema já esteve envolvida?
Mariani - Meus trabalhos mais recentes são a produção executiva e roteiro do longa-metragem documental "O Caso do Homem Errado" e o roteiro da série "Necrópolis", que estreia em 2018 no canal Prime Box. Além disso, eu fui uma das curadoras do concurso de roteiros de longas do Frapa, o maior festival de roteiro da América Latina, e sou uma das organizadoras e curadoras da Mostra Ela na Tela, uma mostra de cinema voltada para produções dirigidas e protagonizadas por mulheres, cuja terceira edição ocorre de 21 a 25 de outubro da Cinemateca Capitólio, em Porto Alegre.
André Bresolin
Jornalista - MTb 18.183
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