Conscientização
Setembro Amarelo: docente de Psicologia fala sobre a valorização da vida
Campanha chama atenção para o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio
Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), organiza nacionalmente o Setembro Amarelo, campanha de valorização da vida. Isso porque o suicídio continua sendo uma das principais causas de morte em todo o mundo, de acordo com as mais recentes estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Todos os anos, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV, malária ou câncer de mama e/ou guerras e homicídios.
Desde março de 2020 até o presente momento, temos presenciado os impactos da pandemia no agravamento da saúde mental. Para conversar sobre valorização da vida, conversamos com a professora do Programa de Pós-graduação em Promoção da Saúde, Desenvolvimento Humano e Sociedade (PPGProSaúde) e do curso de Psicologia da Ulbra Canoas, Aline Groff Vivian.
Acompanhe a entrevista.
Do que se trata o Setembro Amarelo?
O mês de setembro foi escolhido para se realizar um campanha brasileira de prevenção ao suicídio, pois o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Durante o mês da campanha, costuma-se iluminar locais públicos com a cor amarela, além de promover ações que propiciem espaço para debates, de forma a divulgar o tema alertando a população sobre a importância de sua discussão. Os dados são alarmantes, pois ocorrem mais de 1 milhão de suicídios, anualmente, em todo o mundo. Somente no Brasil, há registro de cerca de 12 mil casos anuais, de acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria.
Quais os problemas psíquicos mais recorrentes nesse momento de pandemia?
A pandemia intensificou quadros de ansiedade e depressão, assim como sobrecarga e estresse pelo acúmulo de tarefas nos casos em que se sobrepuseram atividades domiciliares de trabalho e estudos. Também gerou um clima de incerteza e insegurança diante de um contexto desconhecido, além do luto pelas perdas reais ou de expectativas não realizadas, apontando inclusive para um aumento das tentativas de suicídio frente a um cenário pandêmico.
Toda pessoa que comete ou tenta cometer suicídio, possui algum transtorno?
Na maioria quase absoluta dos casos de tentativa ou de êxito de suicídio há algum transtorno mental presente. O mais recorrente é a depressão, seguido de transtorno de humor bipolar, porém, em casos de abusos de substâncias psicoativas, como álcool e outras substâncias ou a combinação desses fatores, o suicídio é mais frequente. Em casos de doenças crônicas, como esquizofrenia, e também em transtornos de personalidade, há fatores de risco a serem observados com atenção.
Existe um perfil pré-determinado para pessoas que atentam contra a vida?
Há fatores de risco como a presença de um transtorno mental não tratado, como mencionado anteriormente. Muitos casos de transtornos de humor requerem uma abordagem integrada em que psicoterapia e medicação são associadas no tratamento do paciente. A existência de um histórico de tentativas anteriores é um fator de alerta que merece muita atenção. Contudo, não se pode afirmar que todo o suicídio esteja associado a uma doença mental, embora a interação entre transtornos psíquicos e uso de álcool seja um agravante para os casos em que o ato obtém êxito, impactando familiares e amigos pelo luto da perda de forma trágica, que pode levar a sentimentos de culpa e incapacidade de perceber os sinais emitidos pela vítima.
Como perceber se há risco? E o que fazer?
É preciso reconhecer as etapas que se iniciam em pensamentos de não querer viver ou de "desaparecer", que podem passar a um plano que inclui a ideação suicida até chegar ao ato propriamente dito, com algum sinal de sua intenção mencionado nesse período de tempo. Buscar ajuda profissional especializada é a melhor atitude a se tomar.
Qual a importância de falar sobre o assunto e como abordá-lo?
Descrições de pormenores, métodos utilizados ou cenas chocantes devem ser evitadas de serem divulgadas. É importante falar sobre suicídio de forma adequada, ou seja, fornecendo informações que desmistifiquem ideias equivocadas como a de que se alguém anuncia a intenção de cometer suicídio, quer apenas chamar a atenção e não fará nada para atentar contra a própria vida. Muitas pessoas em sofrimento dão sinais aos familiares e anunciam suas ideias ou planos aos profissionais e isso não deve ser ignorado. A necessidade de acompanhamento especializado deve ser sempre enfatizada, orientando sobre locais ou indicações de auxílio.
É possível prevenir o suicídio? Como podemos ajudar?
A prevenção do suicídio passa por uma necessidade de reconhecer os sinais emitidos pela pessoa que está em sofrimento psíquico. Além disso, alguns fatores protetivos devem ser valorizados, como rede apoio social ou familiar e boa capacidade de se vincular com um profissional e boa capacidade de adaptação às adversidades. Buscar indicadores que minimizem o risco também é importante. Podemos ajudar encaminhando para tratamento psicoterápico, com profissionais capacitados a intervir de forma apropriada, o que acaba por envolver a família e a rede de apoio do paciente.
Autolesão provocada é a mesma coisa que tentativa de suicídio?
A automutilação ou agressões intencionais dirigidas contra si, mesmo sem intenção consciente, podem ser consideradas fatores de risco para o suicídio e, nos casos em que estão presentes, deve haver encaminhamento para avaliação e tratamento psicoterápico, pois são indicativos de sofrimento psíquico e pedidos indiretos de ajuda e atenção.
Existem ações específicas além do mês de setembro onde o tema pode ser abordado?
Devido ao estigma relacionado ao tema, muitas pessoas deixam de buscar auxílio profissional especializado. Os próprios profissionais de saúde de equipes multidisciplinares necessitam de orientações para a condução e encaminhamento dos casos de pacientes que buscam serviços em que não há intervenções específicas em saúde mental. Considerar os aspectos relativos à saúde física, como doenças incapacitantes e os aspectos psicológicos, além da espiritualidade e da capacidade de se acessar serviços de saúde, podem fazer a diferença na prevenção.
E que ações poderiam ajudar para a prevenção?
Campanhas para promoção da saúde desde o ambiente escolar são boas estratégias para começar a intervir com crianças e adolescentes, desfazer o tabu relativo à busca de tratamentos em saúde mental, divulgar casos sobre superação de adversidades de maneira cuidadosa pode auxiliar na prevenção, indicando formas de evitar um desfecho trágico.
Peça ajuda!
Para conversar com um voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV), basta ligar para o telefone 188, gratuito, que funciona 24 horas. Também é possível mandar um e-mail ou falar pelo chat, que podem ser acessados pelo site www.cvv.org.br.
Naira Nunes
Estagiária de Jornalismo da Ulbra Canoas
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