Inclusão Social
Comitiva internacional visita comunidade Areal da Baronesa
Grupo participa de congresso nas Faculdades EST em São Leopoldo (RS)
O IV Congresso Internacional das Faculdades EST, que vem sendo realizado entre os dias 10 e 14 de setembro, na cidade de São Leopoldo, atraiu para o Rio Grande do Sul educadores estrangeiros interessados em conhecer de perto a trajetória de lutas e conquistas da comunidade de origem escrava residente no Areal da Baronesa na capital do Estado, Porto Alegre.
A representante da quarta geração de moradores do território quilombola, Fabiana Xavier, foi a responsável por receber o grupo, apresentando a cultura e os valores vividos nesta área desde seus antepassados. Segundo explicou a líder comunitária, o barão João Baptista da Silva Pereira, proprietário do local, ao falecer, deixou suas terras em herança à esposa, baronesa Maria Emília de Meneses, que, sem saber administrar os negócios, acabou por abandonar os negros à própria sorte. Em 1888, com a morte da viúva, os escravos ficaram soltos, sobrevivendo de atividades como lavar, passar e cozinhar.
Anos mais tarde, chegou a urbanização e, com ela, a redução da área, que mantém hoje apenas uma rua com as características originais, onde vive parte da comunidade. Muitos descendentes de escravos foram remanejados para terrenos afastados da região central, iniciando novos bairros. No entorno do local, construções de grupos com maior poder aquisitivo são motivo de conflitos até os dias atuais.
"A única forma de não sermos retirados daqui era nos organizando, foi então que as mulheres iniciaram o grupo de mães, nascendo, assim, nossa primeira organização social", destacou Fabiane, sobre os passos que antecederam a fundação da Associação Comunitária e Cultural Quilombo do Areal.
A população local, hoje reconhecida como remanescente de povo escravizado, projeta reformas nas construções já existentes, uma vez que não há mais espaço para novas edificações para padronizar a área. "A batalha é grande e árdua. Temos muitas dificuldades no nosso dia a dia, pois, muito antes da criação dos bairros tradicionais que cercam a comunidade, ela já existia. Nós merecemos estar aqui e vamos ficar", desabafa a líder comunitária.
A Universidade e a comunidade
Durante a conversa com os visitantes, traduzida pelo professor das Faculdades EST, Rudolf Von Sinner, Fabiane falou da relação da Universidade Luterana do Brasil com a comunidade do Areal: "De todas as Instituições que já nos procuraram, a Ulbra foi a que teve um olhar diferente para a nossa realidade, sabendo ouvir as necessidades e percebendo quais trabalhos precisavam ser desenvolvidos, fossem eles oficinas, parcerias, e tiveram um poder transformador sobre este local. Temos projetos acontecendo, onde os participantes são instigados a se empoderar, se sentir capazes de romper seus limites. Assim, percebemos a mudança do que era para o que é hoje em crianças, adolescentes, adultos e até idosos. São benefícios imensos".
A líder comunitária local, por si só, já é um grande exemplo para seu povo, pois, após duas décadas longe dos estudos, se preparou para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), através das oficinas preparatórias ofertadas pela Ulbra de forma gratuita, e conseguiu obter a nota que lhe garantiu bolsa integral para o curso de Serviço Social, que hoje realiza na modalidade de educação a distância.
A diretora de Assuntos Comunitários da Universidade, Simone Loureiro Brum Imperatore, que também atua como voluntária junto ao quilombola, ressaltou a parceria com as Faculdades EST no desenvolvimento deste projeto: "Nosso foco de trabalho está nas áreas estabelecidas como de maior prioridade, como reforço escolar, alfabetização de adultos, geração de renda e promoção da saúde, que é uma ação realizada também em outros quilombos, que trata de doenças específicas dos afrodescendentes".
Presente também na visita, o pró-reitor Acadêmico, Pedro Antonio González Hernández, destacou a importância da parceria entre as duas instituições e a característica do papel transformador que ambas possuem. "Colocando este potencial em prática, só podemos obter bons resultados. O desejo tanto da Ulbra como da EST é ver este retorno positivo nas comunidades, principalmente diante de um dos problemas históricos dos projetos comunitários de todas as instituições de ensino superior brasileiras, que é adentrar nestas áreas, pesquisar necessidades e planejar ações. Quando iniciamos as atividades, a primeira condição colocada é que iremos permanecer com este trabalho até que a transformação da sociedade aconteça", ressaltou.
O filme
A comunidade do Areal da Baronesa será em breve protagonista de um filme que conta sua própria história. A produção, idealizada por Plínio Mósca, conselheiro estadual de cultura, é um resgate histórico de grande relevância para este povo. "Este projeto é uma maneira de alavancar o desenvolvimento deste povo, respeitando a memória social e cultural que ele tem. Como homem de teatro, me sinto honrado pela oportunidade de trazer a arte para este espaço", comemorou o produtor.
Andréia Pires
Jornalista - MTb.: 17.976
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